POSTAGEM PARA A TURMA E-1103, DO NATÁLIO SALVADOR ANTUNES

Criaturinhas fofas da minha vida, aí está o material para a próxima aula (prova) de Literatura. Beijos para os beijáveis e abraços para os abraçáveis.

MARÍLIA DE DIRCEU - Tomás Antônio Gonzaga

PARTE I

Lira I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d’ expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os pastores, que habitam este monte,
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra, que não seja minha,
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que teu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom, minha Marília, é bom ser dono
De um rebanho, que cubra monte, e prado;
Porém, gentil Pastora, o teu agrado
Vale mais q’um rebanho, e mais q’um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!

Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Depois de nos ferir a mão da morte,
Ou seja neste monte, ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois a mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
"Quem quiser ser feliz nos seus amores,
Siga os exemplos, que nos deram estes."
Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!


CARTAS CHILENAS – PARTE


Ajuntavam-se os grandes desta terra,
À noite, em casa do benigno chefe
Que o governo largou. Aqui, alegres,
190 -- Com ele se entretinham largas horas;
Depostos os melindres da grandeza,
Fazia a humanidade os seus deveres 
No jogo e na conversa deleitosa.
A estas horas entra o novo chefe
195 -- Na casa do recreio e, reparando
Nos membros do congresso, a testa enruga, 
E vira a cara, como quem se enoja. 
Porque os mais junto dele não se assentem 
Se deixa em pé ficar a noite inteira.
200 -- Não se assenta, civil, da casa o dono;
Não se assenta, que é mais, a ilustre esposa;
Não se assenta, também, um velho bispo,
E a exemplo destes, o congresso todo.

Pensavas, Doroteu, que um peito nobre,
205 -- Que teve mestres, que habitou na corte, 
Havia praticar ação tão feia 
Na casa respeitável de um fidalgo, 
Distinto pelo cargo que exercia 
E, mais ainda, pelo sangue herdado?
210 -- Pois inda, caro amigo, não sabias
Quanto pode a tolice e vã soberba.
Parece, Doroteu, que algumas vezes,
A sábia natureza se descuida.
Devera, doce amigo, sim, devera
215 -- Regular os natais conforme os gênios.
Quem tivesse as virtudes de fidalgo,
Nascesse de fidalgo, e quem tivesse
Os vícios de vilão, nascesse embora,
Se devesse nascer, de algum lacaio,
220 -- Como as pombas, que geram fracas pombas,
Como os tigres, que geram tigres bravos.
Ah ! se isto, Doroteu, assim sucede
Estava o nosso chefe mesmo ao próprio
Para nascer sultão do Turco Império,
225 -- Metido entre vidraças, reclinado
Em coxins de veludo e vendo as moças,
Que de todas as partes o cercavam,
Coçando-lhe umas, levemente, as pernas
E as outras abanando-o com toalhas:
230 -- Só assim, Doroteu, o nosso chefe
Ficaria de si um tanto pago.

FONTE:  www.biblio.com.br

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