PARA AS TURMAS DE PRIMEIRO ANO DO NATÁLIO
Pessoinhas queridas, por uma questão de
economia de papel, a melhor alternativa é copiar e colar esses textos no word
antes de imprimi-los.
CANTIGAS TROVADORESCAS
TEXTO
01 – cantiga de amor - da época – DOM DINIS
Você me proibiu, senhora, / de que lhe dissesse qualquer coisa
sobre o quanto morro por sua causa. / Mas então me diga,
Por Deus, Senhora: a quem falarei / o quanto sofro e já sofri por você
senão a você mesma?
Ou a quem direi o meu amor / se
eu não o disser a você?
Mas dizê-lo também não adianta. / Sofro tanto de amor por você.
Se eu não lhe falar sobre isso / Como saberá o que sinto?
Ou a quem direi o sofrimento/ que me faz sofrer,
se eu não for dizê-lo a você? / Diga-me: o que faço?
E, assim, se Deus lhe perdoa, / coita do meu coração,
a quem direi o meu amor?
TEXTO 02 – atual, com características de
cantiga de amor - Roberto Carlos
Eu
tenho tanto pra te falar, / mas com palavras não sei dizer
como é grande o meu amor por você. / E não há nada pra comparar
para poder lhe explicar / como é grande o meu amor por você.
Nem mesmo o céu, nem as estrelas, / nem mesmo o mar e o infinito,
não é maior que o meu amor, / nem
mais bonito.
Eu desespero a procurar / alguma
forma de lhe falar
como é grande o meu amor por você. / Nunca se esqueça nenhum segundo
que eu tenho o amor maior do mundo, / como é grande o meu amor por você.
TEXTO
01 – cantiga de amigo - da época – MARTIN CODAX
Tenho notícias / de que hoje chega o meu namorado / e irei, mãe, a
Vigo.
Tenho notícias / de que hoje chega o meu
amado / e irei, mãe, a Vigo.
Hoje chega o meu namorado / e está são e
vivo / e irei mãe, a Vigo.
Hoje chega o meu amado / E está vivo e são / E irei, mãe, a Vigo.
Está são e vivo / e amigo do rei / e irei, mãe, a Vigo.
Está vivo e são / E é da confiança do rei / E irei, mãe, a Vigo.
TEXTO 02 – atual, com características de cantiga de amigo –
Chico Buarque
Oh pedaço de mim /
Oh metade amputada de mim
Leva o que há de
ti / Que a saudade dói latejada
É assim como uma
fisgada / No membro que já perdi
Oh pedaço de mim
/ Oh metade adorada de mim
Leva os olhos meus / Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero
levar comigo / A mortalha do amor...
Adeus.
Cantiga de Escárnio
TEXTO
01 – da época - Joan Airas de Santiago
Uma dona, não vou dizer qual, / teve um forte agouro,
pelas oitavas de Natal: / saía de casa para ir à missa,
mas ouviu um corvo carniceiro / e não quis mais sair de casa.
A dona, de um coração muito bom, / ia à missa
para ouvir seu sermão, / mas veja o que a impediu:
ouviu um corvo sobre si / e não quis mais sair de casa.
A dona disse: - E
agora? / O padre já está pronto
e irá maldizer-me
/ se não me vir na igreja.
E disse o corvo:
- Quá a cá / e ela não quis mais sair de casa.
Nunca vi tais
agouros, / desde o dia em que nasci,
como o que
ocorreu neste ano por aqui; / ela quis tentar partir,
mas ouviu um
corvo sobre si / e não quis mais sair de casa.
TEXTO 02 – atual, com características
da cantiga de escárnio – Chico Buarque
Todo ovo / Que eu choco / Me toco / De novo / Todo ovo / É a cara É a clara / Do vovô / Mas fiquei bloqueada / E agora / De noite / Só sonho Gemada / A escassa produção / alarma o patrão / As galinhas sérias / jamais tiram férias / Estás velha, te perdôo / Tu ficas na granja / em forma de canja" Ah!É esse o meu troco / por anos de choco / Dei-lhe uma bicada / e fugi, chocada / Quero cantarna ronda / na crista / da onda / pois um bico a mais / só faz mais feliz / a grande gaiola / do meu país.
Cantiga de Maldizer
TEXTO 01 – da época – Pero da Ponte
Quem a sua filha quiser dar / uma profissão com que
possa prosperar / há de ir a
Maria Dominga,
que lhe saberá muito bem mostrar; / e vos direi o que lhe fará:
antes de um mês lhe ensinará / como rebolar as ancas.
E já lhe vejo a ensinar e sustentar
/ uma filha sua;
e quem observar bem suas artes / pode afirmar isto:
que de Paris até aqui / não há mulher
que rebole melhor.
E quem deseja enriquecer / não
ponha sua filha a fazer
trabalhos manuais; / enquanto
esta mestra aqui estiver
ela lhe ensinará a profissão certa / para que seja uma mulher
rica,
a não ser que lhe
faltem homens.
Deve-se saber disso, / para
aprender essas artes;
além disso, pode-se aprimorar / cada
vez mais na profissão;
e depois que aprender tudo muito bem, / irá sustentar-se como puder;
Sustentar-se com seu próprio trabalho.
TEXTO 02 – atual, com características de cantiga de maldizer –
Chico Buarque
GENI E O ZEPELIM
De
tudo que é nego tortoDo mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada.
O seu corpo é dos errantes,
Dos cegos, dos retirantes;
É de quem não tem mais nada.
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina,
Atrás do tanque, no mato.
É a rainha dos detentos,
Das loucas, dos lazarentos,
Dos moleques do internato.
E também vai amiúde
Co'os os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir.
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir:
"Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!"
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante,
Um enorme zepelim.
Pairou sobre os edifícios,
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim.
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia,
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: "Mudei de idéia!
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniqüidade,
Resolvi tudo explodir,
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir".
Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar;
Ela é boa de cuspir;
Ela dá pra qualquer um;
Maldita Geni!
Mas de fato, logo ela,
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro.
O guerreiro tão vistoso,
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro.
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela),
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre,
Tão cheirando a brilho e a cobre,
Preferia amar com os bichos.
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão:
O prefeito de joelhos,
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão.
Vai com ele, vai Geni!
Vai com ele, vai Geni!
Você pode nos salvar!
Você vai nos redimir!
Você dá pra qualquer um!
Bendita Geni!
Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco.
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco.
Ele fez tanta sujeira,
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado.
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir,
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir:
"Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!
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