TEXTOS PARA O TERCEIRO ANO DO CIEP 331

Pessoas fofas da 3001 – CIEP 331 , divirtam-se:


TEXTO 01: Descobrimento – Mário de Andrade

            Abancado à escrivaninha em São Paulo
            Na minha casa da Rua Lopes Chaves
            De supetão senti um friúme por dentro.
            Fiquei trêmulo, muito comovido
            Com o livro palerma olhando pra mim.

            Não vê que me lembrei que lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim
            Na escuridão ativa da noite que caiu
            Um homem pálido magro de cabelo escorrendo nos olhos,
            Depois de fazer uma pele com a borracha do dia,
            Faz pouco se deitou, está dormindo.
            Esse homem é brasileiro que nem eu.


TEXTO 02: Sampa – Caetano Veloso


            Alguma coisa acontece no meu coração
            que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João
            é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
            da dura poesia concreta de tuas esquinas
            da deselegância discreta de tuas meninas
            ainda não havia para mim Rita Lee
            a tua mais completa tradução
            alguma coisa acontece no meu coração
            que só quando cruza a Ipiranga e avenida São João
            quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
            chamei de mau gosto o que vi de mau gosto o mau gosto
            é que Narciso acha feio o que não é espelho
            e à mente apavora o que ainda não é mesmo velho
            nada do que não era antes quando não somos mutantes
            e foste um difícil começo afasto o que não conheço
            e quem vem de outro sonho feliz de cidade
            aprende depressa a chamar-te de realidade
            porque és o avesso do avesso do avesso
            do povo oprimido nas filas nas vilas favelas
            da força da grana que ergue e destrói coisas belas
            da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
            eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
            tuas oficinas de florestas teus deuses da chuva
            panaméricas de áfricas utópicas túmulo do samba
            (mais possível novo quilombo de Zumbi)
            e os novos baianos passeiam na tua garoa
            e os novos baianos te podem curtir numa boa.

TEXTO 03: Vou-me Embora pra Pasárgada – Manuel Bandeira
Vou-me embora pra Pasárgada             
Lá sou amigo do Rei                                 
Lá tenho a mulher que quero                  
Na cama que escolherei                          
Vou-me embora pra Pasárgada             

Vou-me embora pra Pasárgada             
Aqui eu não sou feliz                                
Lá a existência é uma aventura              
De tal modo inconsequente                     
Que Joana a louca de Espanha              
Rainha e falsa demente                           
Vem a ser contraparente                          
Da nora que nunca tive                            

E como farei ginástica                              
Andarei de bicicleta                                  
Montarei em burro brabo                          
Subirei no pau-de-sebo                            
Tomarei banhos de mar!                          
E quando estiver cansado                       
Deito na beira do rio                                  
                                                          
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada  tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
-Lá sou amigo do rei -
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.



TEXTO 04: flexas contra o muro – Cassiano Ricardo
Pra se poder viver                                                 
compra-se o mundo em que se vive.
Como quem compra um objeto secreto, mas visível.
Compram-se os seus problemas sem solução.
Quem nasce no mundo, hoje,
compra, sem o querer, uma pomba.
Com um alfinete feérico na cabeça
Uma pomba extremamente vizinha de bomba.
Uma e outra têm asas.
Uma e outra são limpas.
Ambas são irmãs pelo som.
Um simples equívoco
de fonemas ou de telefonemas
entre os dois hemisférios
uma troca de b por p
e o mundo explodirá em nossa mão.



TEXTO 05: Diversos, de Oswald de Andrade

            PRONOMINAIS                                         
            Dê-me um cigarro              
            Diz a gramática                              
            Do professor e do aluno               
            E do mulato sabido            
            Mas o bom negro e o bom branco          
            Da nação brasileira            .
            Dizem todos os dias
            Deixa disso camarada                              
            Me dá um cigarro.              


            VÍCIO NA FALA
            Para dizerem milho dizem mio
            Para melhor dizem mió
            Para pior pió
            Para telha dizem teia
            Para telhado dizem teiado
            E vão fazendo telhados.
           

            AMOR
            Humor


TEXTO 06: Brás, Bexiga e Barra Funda – Alcântara Machado

            Do consórcio da gente imigrante com o ambiente,
            do consórcio da gente imigrante com a indígena
            nasceram os novos mamelucos.
            Nasceram os italianinhos.
            O Gaetaninho.
            A Camela.
            Brasileiros e paulistas. Até bandeirantes.
            E o colosso continuou rolando.
            No começo a arrogância indígena perguntou meio zangada:

            Carcamano pé-de-chumbo
            Calcanhar de frigideira
            Quem te deu a confiança
            De casar com brasileira?

            O pé-de-chumbo poderia responder tirando o cachimbo
            da boca e cuspindo de lado: A brasileira, per Bacco!
           
            Mas não disse nada. Adaptou-se. Trabalhou. Integrou-se.
            Prosperou.
            E o negro violeiro cantou assim:

            Italiano grita
            Brasileiro fala
            Viva o Brasil!
            E a bandeira da Itália!



CRIATURAS, SÓ ATÉ AQUI. BEIJOS PARA OS BEIJÁVEIS E ABRAÇOS PARA OS ABRAÇÁVEIS.


ARTIGO DE OPINIÃO

SOU CONTRA A REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Renato Roseno

            A brutalidade cometida contra dois jovens em São Paulo reacendeu uma fogueira: a redução da idade penal. Algumas pessoas defendem a ideia de que a partir dos dezesseis anos os jovens que cometem crimes devem cumprir pena em prisão. Acreditam que a violência pode estar aumentando porque as penas que estão previstas em lei, ou a aplicação delas, são muito suaves para os menores de idade. Mas é necessário pensar nos porquês da violência, já que não há um único tipo de crime.
            Vivemos em um sistema socioeconômico historicamente desigual e violento, que só pode gerar mais violência. Então, medidas mais repressivas nos dão a falsa sensação de que algo está sendo feito, mas o problema só piora. Por isso, temos que fazer as opções mais eficientes e mais condizentes com os valores que defendemos.

            Defendo uma sociedade que cometa menos crimes e não que puna mais. Em nenhum lugar do mundo houve experiência positiva de adolescentes e adultos juntos no mesmo sistema penal. Fazer isso não diminuirá a violência. Nosso sistema penal como está não melhora as pessoas.
            O problema não está só na lei, mas na capacidade para aplicá-la.
            Sou contra porque a possibilidade de sobrevivência e transformação desses adolescentes está na correta aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Lá estão previstas seis medidas diferentes para a responsabilização de adolescentes que violaram a lei. Para fazer bom uso do ECA é necessário dinheiro, competência e vontade.
            Sou contra toda e qualquer forma de impunidade. Quem fere a lei deve ser responsabilizado. Mas reduzir a idade penal é ineficiente para atacar o problema. Problemas complexos não serão superados de modo simplório e imediatista. Precisamos de inteligência, orçamento e, sobretudo,  de um projeto ético  e político de sociedade que valorize a vida em todas as suas formas. Nossos jovens não precisam ir para a cadeia. Precisam sair do caminho que os leva até lá. A decisão agora é nossa: se queremos construir um país com mais prisões ou com mais parques e escolas.


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Renato Roseano é advogado, coordenador do Centro
De Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca –
Ceará) e da Associação Nacional dos Centros de
Defesa da Criança e do Adolescente (Anced).


FIM DA POSTAGEM PARA A 3001

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