O SIMBOLISMO
“Os simbolistas, insatisfeitos com a
onda de cientificismo e materialismo a que esteve submetida a sociedade industrial
européia na segunda metade do século XIX, representam a reação da intuição
contra a lógica, do subjetivismo contra a objetividade científica, do
misticismo contra o materialismo, da sugestão sensorial contra a explicação
racional.”
Características
da linguagem simbolista: linguagem vaga(cheia de sugestões); presença
abundante de metáforas, comparações, aliterações, assonâncias, sinestesias;
antimaterialismo, anti-racionalismo; misticismo; religiosidade; pessimismo(a
dor de existir); interesse pela noite, pelo mistério e pela morte; exploração
do inconsciente , do subconsciente e da loucura; busca da essência do ser
humano: a alma.
“Ao contrário do ocorreu na Europa,
onde o Simbolismo se sobrepôs ao parnasianismo, no Brasil o Simbolismo foi quase
inteiramente abafado pelo movimento parnasiano, que gozou de amplo prestígio
entre as camadas cultas até as primeiras décadas do século XX. Apesar disso, a
produção simbolista deixou contribuições significativas, preparando o terreno
para as grandes inovações que iriam ocorrer no século XX, no domínio da
poesia.”
Principais autores e obras:
·
Cruz e Souza(1861 – 1898): Missal(prosa) e Broquéis(poesia):
anulação da matéria para libertação da alma; obsessão pela cor branca; culto da
noite, satanismo, pessimismo e morte; poesia meditativa e filosófica; poesia
metafísica; a dor de existir;
·
Alphonsus de Guimaraens(1870 – 1921): Setenário das Dores de Nossa Senhora; Câmara Ardente; Dona Mística;
Pauvre Lyre(pobre lira): devoção
pela virgem Maria; a morte como a única maneira de se aproximar de
Constança(seu amor) e da Virgem; amor espiritualizado; linguagem de sugestão;
uso de aliterações; desesperança: instabilidade da existência; sentimento
resignado da passagem do tempo e dos seres.
TEXTO 01: ISMÁLIA - Alphonsus Guimaraens
Quando
Ismália enlouqueceu,
Pôs-se
na torre a sonhar...
Viu
uma lua no céu,
Viu
outra lua no mar.
No sonho em
que se perdeu,
Banhou-se
toda em luar...
Queria subir
ao céu,
Queria
descer ao mar...
E
no desvario seu,
Na
torre pôs-se a cantar...
Estava
perto do céu,
Estava
longe do mar...
E como um
anjo pendeu
As asas para
voar...
Queria a lua
do céu,
Queria a lua
do mar...
As asas que
Deus lhe deu
Ruflaram de
par em par...
Sua alma
subiu ao céu,
Seu corpo
desceu ao mar...
Exercícios
1.
Todo o poema
acima é construído com base em antíteses, as quais articulam-se em torno dos
desejos contraditórios de Ismália.
a)
Destaque
dois pares de antíteses do texto.
b)
O que deseja
Ismália?
2.
O
Simbolismo, por ser um movimento antilógico e anti-racional, valoriza os
aspectos interiores e pouco conhecidos da alma e da mente humana. Retire do
texto palavras ou expressões que comprovem essa característica simbolista.
3.
Tal qual no
Barroco e no Romantismo, o poema estabelece relações entre corpo e alma ou
matéria e espírito. Com base no desfecho do poema:
a)
Céu e mar
relacionam-se ao universo material ou espiritual?
b)
Ismália
conseguiu realizar o desejo simbolista de transcendência espiritual? Justifique
sua resposta.
DUAS CANÇÕES ATUAIS COM CARACTERÍSTICAS DO SIMBOLISMO
Cobaias de Deus
Cazuza
Se você quer saber como eu me sinto
Vá a um laboratório ou um labirinto
Seja atropelado por esse trem da morte
Vá ver as cobaias de Deus
Andando na rua pedindo perdão
Vá a uma igreja qualquer
Pois lá se desfazem em sermão
Me sinto uma cobaia, um rato enorme
Nas mãos de Deus mulher
De um Deus de saia
Cagando e andando
Vou ver o ET
Ou vir um cantor de blues
Em outra encarnação
Nós, as cobaias de Deus
Nós somos cobaias de Deus
Nós somos as cobaias de Deus
Me tire dessa jaula, irmão, não sou macaco
Desse hospital maquiavélico
Meu pai e minha mãe, eu estou com medo
Porque eles vão deixar a sorte me levar
Você vai me ajudar, traga a garrafa
Estou desmilingüido, cara de boi lavado
Traga uma corda, irmão (irmão, acorda!)
Nós,…
CLARISSE – LEGIÃO URBANA
Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe, não se move, não trabalha
E Clarisse está trancada no banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela se corta ela se esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém me entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom samaritano
Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente
Como se toda essa dor fosse diferente, ou inexistente
Nada existe pra mim, não tente
Você não sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O medo de voltar pra casa à noite
Os homens que se esfregam nojentos
No caminho de ida e volta da escola
A falta de esperança e o tormento
De saber que nada é justo e pouco é certo
De que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada no seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo resistir
E vou voar pelo caminho mais bonito
Clarisse só tem quatorze anos
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