O PRÉ-MODERNISMO / AUGUSTO DOS ANJOS
PRÉ-MODERNISMO: 1900 -1922
A
literatura brasileira atravessa um período de transição nas primeiras
décadas do século XX. De um lado, ainda há a influência das tendências
artísticas da segunda metade do século XIX; de outro, já começa a ser preparada
a grande renovação modernista, que se inicia em 1922, com a Semana de Arte Moderna. A este período de transição,
que não chegou a constituir um movimento literário, chamou-se Pré-Modernismo.
Uma vez
não se tratando de um estilo de época, com características definidas, o
pré-modernismo apresenta individualidades bastante acentuadas, com estilos, às
vezes, antagônicos, não havendo, portanto, um padrão, mas sim alguns pontos
comuns, como por exemplo:
1. A ruptura com o
passado;
2.
Denúncia da realidade
brasileira (o Brasil não oficial do
sertão nordestino e dos subúrbios);
3.
Regionalismo;
4.
Mistura de estilos;
5.
Novas experiências literárias.
CONTEXTO HISTÓRICO
1. Na
EUROPA, antecedentes da Primeira Guerra
Mundial;
2. No BRASIL,
primeiro presidente civil da Nova
República brasileira: Prudente de Moraes, paulista, iniciando a república café
com e leite;
3. Produção
cafeeira no sudeste; entrada massiva de imigrantes;
4. Desigualdade;
5. Abandono
da população negra;
6. Conflitos
sociais: revolta da vacina, revolta da Chibata, guerra de Canudos;
AUGUSTO DOS ANJOS: 1884 – 1914
Paraibano,
conhecedor da realidade nordestina;
Vocabulário
científico, esdrúxulo até;
Uso
do soneto parnasiano, com temas simbolistas;
Elementos
escatológicos e repugnantes;
Temática
de morte: putrefação, os vermes, decomposição da matéria;
Influência do poeta francês CHARLES BAUDELAIRE
Como
poeta, sua obra é de grande originalidade. Considerado por alguns como poeta
simbolista, Augusto dos Anjos apresenta, na verdade, uma experiência única na literatura universal: a união do Simbolismo
com o cientificismo naturalista. Por isso, dado o caráter sincrético de sua
poesia, convém situá-lo entre o grupo pré-modernista.
Os
poemas de sua única obra, EU(1912),
chocam pela agressividade do vocabulário e pela visão dramaticamente angustiante da matéria, da vida e do cosmos.
Integram a linguagem termos até então considerados anti-poéticos, como escarro, verme, germe. Os temas são,
igualmente, inquietantes: a prostituta,
as substâncias químicas que compõem o corpo humano, a decrepitude dos
cadáveres, os vermes, o sêmen.
Além dessa "camada
científica" de sua poesia, verifica-se, por outro lado, a dor de ser dos
simbolistas, a poesia de anseios e angústias existenciais.
Para o poeta não há Deus nem esperança; há apenas a supremacia da ciência.
Quanto ao homem, as substâncias e energias do universo que o geraram e a
matéria de que ele é feito (carne, sangue, instinto, células), tudo,
fatalmente, se arrasta para a podridão e para a decomposição, para o mal e para
o nada.
TEXTO 01: Versos Íntimos
Vês?!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro
de tua última quimera.
Somente
a ingratidão – esta pantera
Foi
tua companheira inseparável!
Acostuma-te
à lama que te espera!
O
Homem que, nesta terra miserável,
Mora,
entre feras, sente inevitável
Necessidade
de também ser fera.
Toma
um fósforo. Acende teu cigarro!
O
beijo, amigo, é a véspera do escarro.
A
mão que afaga é a mesma que apedreja
Se
a alguém causa inda pena a tua chaga
Apedreja
essa mão vil que te afaga,
Escarra
nessa boca que te beija!
TEXTO
02: Psicologia de um Vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênesis da infância,
A influência má dos signos do Zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas -
Que
o sangue podre das carnificinas
Come,
e à vida em geral declara guerra
Anda
a espreitar meus olhos para roê-los
E
há de deixar-me apenas os cabelos,
Na
frialdade inorgânica da terra!
Exercícios
Responda as questões de
a) Destaque do texto
vocábulos empregados poeticamente por Augusto dos anjos que tradicionalmente
seriam considerados anti-poéticos.
b) Indique de que área
do conhecimento humano provêm esses vocábulos.
2. O poema pode ser dividido em duas partes: a primeira, que trata do próprio eu
lírico, e a segunda, que trata da morte.
a) Como o eu lírico encara a vida e a si mesmo, nas duas
primeiras estrofes?
b) Com que enfoque a morte é tratada, nas duas últimas
estrofes?
3. O título é uma espécie de síntese das idéias do
poema. Justifique-o.
Comentários
Postar um comentário