GONÇALVES DIAS E GONÇALVES MAGALHÃES - PRIMEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA NA POESIA

O Romantismo no Brasil: 1836 – 1881

1836 – Publicação de “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves Magalhães;

1881 – Publicação de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis e “O Mulato”, de Aluísio de Azevedo.

            O Romantismo nasce no Brasil poucos anos depois de nossa independência política. Por isso, as primeiras obras e os primeiros artistas românticos estão empenhados em definir um perfil da cultura brasileira em vários aspectos: a língua, a etnia, as tradições, o passado histórico, as diferenças regionais, a religião, etc.. Assim, podemos dizer que o nacionalismo é o traço essencial que caracteriza a produção dos nossos primeiros escritores românticos, como é o caso de Gonçalves Dias (1823 – 1864), cuja obra apresenta três aspectos marcantes: indianismo, lirismo amoroso e exaltação da pátria.

PRIMEIRA  GERAÇÃO ROMÂNTICA NA POESIA

Nacionalismo / Indianismo

          Criação do herói nacional: o índio; criação de uma identidade nacional;

          Exaltação da natureza;

          Sentimentalismo;

          Religiosidade;

          Volta ao passado medieval;

          Desejo de liberdade.

 

Antônio Gonçalves Dias nasceu em 10 de agosto de 1823 na cidade de Caxias, Maranhão.

Ingressou na Universidade de Coimbra em 1840, formando-se em Direito. Em 1845, retorna ao Brasil e publica a obra "Primeiros Contos". É nomeado Professor de Latim e História do Brasil no Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro.

Ali, na época capital do Brasil, ele trabalhou como jornalista e crítico literário nos jornais: Jornal do Commercio, Gazeta Oficial, Correio da Tarde e Sentinela da Monarquia.

 

Também foi um dos fundadores da Revista Guanabara, importante veículo de divulgação dos ideais românticos. Em 1851 publica o livro "Últimos Cantos".

Nessa época conhece Ana Amélia, mas por ser mestiço, a família dela não permitiu o casamento. Assim, casa-se com Olímpia da Costa, com quem não era feliz.

Em 1854 parte para a Europa e encontra sua Ana Amélia, já então casada. Desse encontro nasce o poema “ Ainda uma vez-adeus!”.

Em 1864, depois de uma temporada na Europa para tratamento de saúde, embarca de volta a sua terra natal, ainda debilitado.

No dia 3 de novembro de 1864 o navio em que estava naufraga. O poeta falece próximo ao município de Guimarães, Maranhão, aos 41 anos de idade.

 

Principais Obras e Características

Obras Indianistas

O indianismo marcou a primeira fase do romantismo no Brasil. Com isso, diversos escritores focaram na figura do índio idealizado.

Além desses temas, as obras desse primeiro momento também apresentavam um caráter muito nacionalista e patriótico. Por isso, essa fase ficou conhecida pelo binômio "indianismo-nacionalismo".

 

Da obra indianista de Gonçalves Dias destacam-se:

Canção do Tamoio

I-Juca-Pirama

Leito de folhas verdes

Canto do Piaga

 

Obras Lírico-amorosas

Nessa fase Gonçalves Dias exaltou o amor, a tristeza, a saudade e a melancolia. De sua obra poética merecem destaque:

Se se morre de amor

Ainda uma vez-adeus!

Seus olhos

Canção do exílio

Sextilhas de Frei Antão

 

Os principais livros de Gonçalves Dias são:

Primeiros Cantos

Segundos Cantos

Últimos Cantos

 

Sem dúvida, a Canção do Exílio é um dos poemas mais emblemáticos do escritor. Publicado em 1857, nesse poema Gonçalves Dias expressou a solidão e a saudade que sentia da sua terra quando esteve em Portugal.

 

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá.

 

Nosso céu tem mais estrelas,

Nossas várzeas têm mais flores,

Nossos bosques têm mais vida,

Nossa vida mais amores.

 

Em cismar, sozinho, à noite,

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Minha terra tem primores,

Que tais não encontro eu cá;

Em cismar — sozinho, à noite —

Mais prazer encontro eu lá;

Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Não permita Deus que eu morra,

Sem que eu volte para lá;

Sem que desfrute os primores

Que não encontro por cá;

Sem qu'inda aviste as palmeiras,

Onde canta o Sabiá.

 

Confira abaixo também alguns trechos dos melhores poemas de Gonçalves Dias:

 

Canção do Tamoio

Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar.

 

Um dia vivemos!

O homem que é forte

Não teme da morte;

Só teme fugir;

No arco que entesa

Tem certa uma presa,

Quer seja tapuia,

Condor ou tapir.

 

I-Juca-Pirama (fragmento)

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi:

Sou filho das selvas,

Nas selvas cresci;

Guerreiros, descendo

Da tribo tupi.

 

Da tribo pujante,

Que agora anda errante

Por fado inconstante,

Guerreiros, nasci:

Sou bravo, sou forte,

Sou filho do Norte;

Meu canto de morte,

Guerreiros, ouvi.

 

 

Canto do Piaga

Ó Guerreiros da Taba sagrada,

Ó Guerreiros da Tribo Tupi,

Falam Deuses nos cantos do Piaga,

Ó Guerreiros, meus cantos ouvi.

Esta noite — era a lua já morta —

Anhangá me vedava sonhar;

Eis na horrível caverna, que habito,

Rouca voz começou-me a chamar.

Abro os olhos, inquieto, medroso,

Manitôs! que prodígios que vi!

Arde o pau de resina fumosa,

Não fui eu, não fui eu, que o acendi!

Eis rebenta a meus pés um fantasma,

Um fantasma d'imensa extensão;

Liso crânio repousa a meu lado,

Feia cobra se enrosca no chão.

 

Ainda uma vez - Adeus

Enfim te vejo! — enfim posso,

Curvado a teus pés, dizer-te,

Que não cessei de querer-te,

Pesar de quanto sofri.

Muito penei! Cruas ânsias,

Dos teus olhos afastado,

Houveram-me acabrunhado

A não lembrar-me de ti!

 

Dum mundo a outro impelido,

Derramei os meus lamentos

Nas surdas asas dos ventos,

Do mar na crespa cerviz!

Baldão, ludíbrio da sorte

Em terra estranha, entre gente,

Que alheios males não sente,

Nem se condói do infeliz!

 

Gonçalves Dias foi um dos maiores poetas da primeira geração romântica do Brasil. Foi patrono da cadeira 15 na Academia Brasileira de Letras (ABL).

Lembrado como poeta indianista, ele escreveu sobre temas relacionados à figura do índio. Além de poeta, ele foi jornalista, advogado e etnólogo.

 

Canção do Exílio – paródia de Murilo Mendes(modernista)

 

            Minha terra tem macieiras da Califórnia

            onde cantam gaturanos de Veneza.

            Os poetas da minha terra

            são pretos que vivem em torres de ametista,

            os sargentos do exército são monistas, cubistas,

            os filósofos são polacos vendendo a prestações.

            A gente não pode dormir

            com os oradores e os pernilongos.

            Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.

            Eu morro sufocado em terra estrangeira.

            Nossas flores são mais bonitas

            nossas frutas mais gostosas

            mas custam cem mil réis a dúzia.

            Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade

            e ouvir um sabiá com certidão de idade!

 

AQUARELA BRASILEIRA – Ari Barroso

Brasil                                    

Meu Brasil brasileiro                      

Meu mulato inzoneiro                     

Vou cantar-te nos meus versos    

Ô Brasil, samba que dá                 

Bamboleio que faz gingá               

Ô Brasil, do meu amor                   

Terra de Nosso Senhor                 

Brasil! Brasil!                                  

Pra mim... Pra mim...                                 

 

Ô abre a cortina do passado

Tira a mãe preta do serrado

Bota o rei congo no gongado

Brasil! Brasil!

Deixa cantar de novo o trovador

À merencórea luz da lua

Toda canção do meu amor...

Quero ver a “sá dona” caminhando

Pelos salões arrastando

O seu vestido rendado.

Brasil!  Brasil!

Pra mim... Pra mim...

 

Ô esse coqueiro que dá coco       

Oi onde amarro a minha rede       

Nas noites claras de luar               

Brasil! Brasil!                                  

Ô oi essas fontes murmurantes    

Oi onde eu mato minha sede        

 

E onde a lua vem brincá

Oi, esse Brasil lindo e trigueiro

É o meu Brasil brasileiro

Terra de samba e pandeiro

Brasil! Brasil!

Pra mim... Pra mim...

 

BRASIL – cazuza

Não me convidaram                       

pra essa festa pobre                      

que os homens armaram               

pra me convencer               

a pagar sem ver                              

toda essa droga                             

que já vem malhada           

antes d’eu nascer.              

Não me ofereceram           

nem um cigarro,                              

fiquei na porta                                 

estacionando os carros.                

Não me elegeram                           

chefe de nada:                                

o meu cartão de crédito                 

é uma navalha.                                

Brasil, mostra a tua cara.

Quero ver quem paga

pra gente ficar assim.

Brasil,

qual é o teu negócio,

o nome do teu sócio?

Confia em mim.

Não me sortearam

a garota do Fantástico,

não me subornaram.

Será que é o fim

ver TV a cores

na taba de um índio

programada pra só dizer sim?

Grande pátria desimportante,

em nenhum instante eu vou te trair.

 

GONÇALVES DE MAGALHÃES

 

O escritor Domingos José Gonçalves de Magalhães, o Visconde de Araguaia, nasceu em Niterói (RJ), no ano de 1811. Estudou Medicina e filosofia, concluindo seus estudos no ano de 1832.

No mesmo ano, publicou a obras Poesias e viajou para a Europa a fim de continuar estudando Medicina. Lá, toma conhecimentos dos principais modelos literários românticos em voga.

Em Paris, publica um manifesto intitulado Discurso sobre a Literatura no Brasil e funda a Niteroi, Revista Brasiliense em parceria com os brasileiros Araújo Porto-Alegre e Torres Homem. Em 1836 (ainda em Paris) publicou Suspiros Poéticos e Saudades, considerada a primeira obra do movimento romântico brasileiro.

Retorna ao Brasil no ano de 1837 onde exerce a função de professor no colégio Pedro II e, posteriormente, atua como secretário do militar Duque de Caxias, no Maranhão e no Rio Grande do Sul, fato que o encaminhou à função de diplomata, trabalhando em diversos países como Paraguai, Estados Unidos, Áustria e Itália entre outros. Dedica os versos Confederação dos Tamoios ao imperador Dom Pedro II que lhe concede o título de Barão e Visconde de Araguaia.

Faleceu em Roma no ano de 1882 e foi escolhido como o patrono da cadeira de número nove da Academia Brasileira de Letras por Carlos Magalhães de Azeredo.

 

Obras

A partir da publicação do seu primeiro conjunto de poemas, intitulado Poesias (1832), o poeta continuou com uma vasta publicação ao longo de sua vida, abarcando desde poesia, teatro, ensaios e textos filosóficos. Poesias ainda contém características do arcadismo e sua obra sofre uma mudança considerável após sua ida à Europa, onde o contato com os principais autores românticos, como Chateaubriand, Manzoni e Lamartini trouxesse para o Brasil as características daquele movimento literário.

Em seu manifesto intitulado Discurso sobre a literatura no Brasil (1836), publicado em Paris, o autor discute acerca das características que devem compor a literatura nacional, além de fazer uma crítica sobre a situação da literatura brasileira que, segundo o autor, seria uma literatura europeia ambientada em terras brasileiras.

Suspiros poéticos e saudades, também lançado em 1836 enquanto Magalhães estava na Europa, dita os principais temas do romantismo nas letras brasileiras: trata do individualismo, patriotismo, idealização da infância, evocação da natureza, sentimentalismo e desejo de remeter às origens do país. Com isso, é aclamado por seus pares como o inaugurador do romantismo no Brasil.

Em 1856, Magalhães escreveu o poema épico Confederação dos Tamoios (1856), em dez cantos, que versa sobre a rebelião dos indígenas contra os colonizadores portugueses, de mesmo nome, ocorrida entre os anos de 1554 e 1567. Nele, o poeta defende os índios, pois estes seriam bravos guerreiros empenhados na defesa de sua terra, o que denotaria um forte sentimento nacionalista. Logo, o índio seria considerado o primeiro herói nacional.

Além disso, publicou em vida uma série de poemas, tais como: Os Mistérios (1858), Urânia (1861), e Cânticos Fúnebres (1864); duas peças de teatro: Antônio José (1838) e Olgiato (1839) e uma série de ensaios presentes em Opúsculos Históricos e Literários (1865). Publica também textos filosóficos intitulados Fatos do Espírito Humano (1858), A Alma e o Cérebro (1876) e Comentários e Pensamentos (1880).

Apesar de sua importância para as letras como precursor do romantismo literário brasileiro, Magalhães não é reconhecido como um grande poeta pela crítica literária.

(www.soliteratura.com.br)


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