"VÍTIMAS ALGOZES", DE JOAQUIM MANOEL DE MACEDO E O RACISMO EM NOSSA LITERATURA

"As Vítimas Algozes" - Resumo da obra de Joaquim Manoel de Macedo

 

Em "As Vítimas Algozes", obra publicada em 1869, Joaquim Manoel de Macedo faz uma defesa da abolição da escravatura utilizando, porém, argumentos bem diferentes aos dos direitos humanos e da igualdade social.

(www.guiadoestudante.abril.com.br)

 

Resumo

Em "As Vítimas Algozes", Joaquim Manoel de Macedo conta, a partir do ponto de vista dos senhores donos de escravos, três histórias distintas onde o escravo, vítima direta da escravidão, pode se tornar algoz (carrasco, atormentador) de seus senhores.

 

1a Narrativa: "Simeão, o crioulo"

A mãe de Simeão tinha sido ama-de-leite na casa se seus senhores. Quando o menino estava com dois anos de idade, a mãe morreu e Simeão passou a ser cuidado como filho adotivo por seus senhores, Domingos Caetano e Angélica. Ele poderia sentar-se à mesa para comer e tinha um lugar no quarto de seus senhores para dormir.

Porém, conforme Simeão crescia, sua condição de escravo foi ficando cada vez mais evidente. Até que ao completar oito anos, Simeão perdeu o direito de sentar-se à mesa para comer e não tinha mais lugar no quarto de seus senhores. Mesmo assim, continuou a receber um tratamento diferenciado e cresceu sem ter o hábito de trabalho, com roupas asseadas, pés calçados e cabelos penteados, parecia ser um homem livre.

Quando tinha dezenove anos, Simeão foi flagrado por Florinda, filha de Domingos e Angélica, a roubar de seus senhores. Ele nega estar roubando e não obedece às ordens de Florinda. Nesse momento, Domingos chega e fica sabendo de tudo através de uma outra escrava. O senhor castiga então o jovem com o chicote, sendo a primeira vez que Simão recebeu este que era o castigo comum aos escravos. Assim, tendo sido criado em meio à liberdade, mas sem poder usufruí-la plenamente, Simeão passou a invejar e a odiar seus senhores.

Desde criança, ouvia de todos que ele seria alforriado quando Domingos morresse, tendo crescido alimentando essa esperança. Até que chega o dia em que Domingos adoece e fica à beira da morte. Simeão age com toda a atenção do mundo, comportando-se como se de fato se preocupasse com a saúde de seu senhor. Na realidade, ele só queria aproveitar a desordem que a morte de Domingos causaria na família para roubar o máximo que pudesse do dinheiro de seu patrão e fugir.

Porém, seus planos de fugir alforriado e com o dinheiro de Domingos são frustrados. Domingos deixou registrado em seu testamento que Simeão só receberia a alforria após a morte de Angélica, o que deixou o escravo transtornado. Então, Simeão trama e realiza com outros comparsas, o assassinato de toda a família de seu senhor, fugindo com o dinheiro deles. Mais uma vez o plano não sai tão bem quanto eles queriam e Simeão acaba morto por um dos carrascos da fazenda e o restante do bando é preso.

 

2a. Narrativa: "Pai-Raiol, o feiticeiro"

Paulo Borges era um rico fazendeiro do Rio de Janeiro. Homem simples, quase rude, só queria saber da fazenda e da família. Ele era casado com Teresa, jovem simples e honesta, que, assim como o marido, trabalhava muito e se dedicava à educação dos filhos do casal.

Decidido a aumentar suas terras e o número de escravos, Paulo um dia vai à vila participar da arrematação de escravos. Voltou com vinte homens, dentre eles Pai-Raiol, um "negro feio e desfigurado por moléstia ou por castigos". Este era um escravo com má fama, que sempre causava confusões, praticava furtos e havia suspeita de assassinatos por envenenamento. Porém, dizia-se que ele havia mudado por influência de Esméria, escrava com quem ele vivia e que o dominava. Por conta dessa relação entre os dois, Paulo arrematou Esméria também e os deixou à vontade para viverem juntos.

Teresa achou que Esméria tinha uma boa aparência e logo a chamou para os trabalhos dentro de casa. A escrava fazia tudo o que lhe mandavam, sempre com alegria. Esméria era esperta, ativa e humilde; sabia exatamente como se comportar para conquistar a confiança de seus senhores. Entretanto, ela não era o que parecia e fingia ser uma boa escrava apenas para tentar tornar sua condição de escrava menos sofredora. Esméria era dissimulada e egoísta.

Ao contrário do que todos diziam, Pai-Raiol e Esméria não eram mais amantes. Tiveram um caso de poucos dias ou meses e disso nada mais restava. Além disso, não era Esméria que tinha influenciado beneficamente Raiol, mas este que tinha uma influência satânica sobre a moça. Ela acreditava no poder de Raiol e tinha medo dele.

Seis meses após a arrematação dos vinte escravos, o infortúnio chegou à fazenda de Paulo Borges. Os animais morriam, mas como não havia doença alguma, foi ficando claro os sinais de envenenamento. Os campos foram vasculhados à busca de ervas venenosas e depois limpos. Algum tempo depois, o canavial pegou fogo. Mais alguns meses e novamente os animais morreram envenenados às dezenas. O prejuízo era incalculável e Paulo só lamentava seu infortúnio. Até que Pai-Raiol mostrou qual era a erva que estava causando isso e os pastos puderam ser limpos graças a Raiol.

A certo ponto da história, Esméria começa a se insinuar sexualmente para Paulo Borges, que, apesar de amar Teresa, acaba cedendo aos encantos da escrava. Depois de pouco tempo Teresa descobre o adultério do marido. Diz-se que Teresa envelheceu vinte anos em oito dias. Quando esta se declarou viúva, Paulo Borges caiu mais em desgraça e passou a frequentar a senzala de Esméria até durante o dia, aos olhos de todos. E foi assim que a vergonha, a infâmia e a desonra foram chegando à fazenda que um dia fora exemplo para as outras.

Esméria envenena Teresa e, ao assumir a casa de Paulo Borges, cada um dos filhos vai morrendo envenenado também. Depois de conseguir o testamento de Paulo com sua alforria, Esméria começa a envenenar Paulo.

Esméria convence um outro escravo, tio Alberto, de que Pai-Raiol é o culpado de tudo. Enquanto isso, Lourença, escrava antiga da família, conta a Paulo Borges que Esméria o está envenenando aos poucos. Então, Tio Alberto numa briga com Pai-Raiol consegue matar o feiticeiro, e Esméria vai presa. Paulo Borges fica condenado a viver uma vida cheio de remorsos.

 

3a Narrativa: "Lucinda, a mucama"

Em seu aniversário de onze anos, Cândida ganha de seu pai, um grande e honrado agricultor do Rio de Janeiro, uma escrava chamada Lucinda, de doze anos. Sabendo fazer bonecas e penteá-las, Lucinda logo agradou Cândida.

A menina havia acabado de perder Joana, que havia sido sua ama-de-leite e a quem Cândida amava como se fosse uma segunda mãe. Joana é descrita como uma mulher simples, porém boa, amiga e religiosa. O narrador deixa claro que Joana só é boa por ser uma pessoa livre. Não sendo escrava, ela pode ser verdadeiramente leal a seus patrões. Joana tinha deixado Cândida para se casar com um lavrador honrado e trabalhador.

Porém, ao contrário do que se poderia imaginar, Lucinda tem uma péssima influência sobre Cândida. A mucama conta a menina o que acontece quando "uma menina vira moça", o que desperta nela a curiosidade sobre os rapazes. Lucinda dá lições de flerte e namoro, ensina que é mais divertido namorar vários rapazes ao mesmo tempo e muitas outras coisas. Aos poucos, as atitudes de Cândida até com relação a seus pais vai mudando.

 

Lucinda torna-se amante de Souvanel, um francês que se torna professor de Cândida, e juntos armam para que ele conquiste a menina e se case com ela. Souvanel consegue conquistar Cândida e tirar sua virgindade. A moça se apaixona por ele e, depois que engravida, Souvanel pede sua mão em casamento.

Porém, Frederico, que ela filho do padrinho de Cândida, faz uma investigação sobre Souvanel e descobre que ele, na realidade, era um criminoso foragido da França, cujo nome verdadeiro era Dermany. Cândida, que era apaixonada pelo Souvanel, fica atordoada e passa a sentir nojo dele, que agora sabe-se chamar Dermany. Frederico, que sempre foi apaixonado por Cândida, pede sua mão em casamento sem se importar que o filho que ela carrega é de outro. Dessa forma, ele a salva de qualquer calúnia.

Com a verdadeira identidade de Souvanel tendo sido revelada, descobre-se todo o plano dele e de Lucinda. A escrava e mais um comparsa dela fogem, mas são presos pela polícia. Quando um escravo era capturado pela polícia, esse ia até o dono desse escravo para saber qual seria o destino do preso, que geralmente era devolvido e o senhor é que aplicava as punições que achasse necessárias. Porém, a família de Cândida abandona os escravos e os rejeita, deixando-os na mão do governo.

 

OBSERVAÇÕES

Notaram que nas três histórias, os donos de escravos, brancos, são todos do bem, e os escravos, negros, são todos do mal?

 

O RACISMO E SUAS DIVERSAS FORMAS

Racismo é a denominação da discriminação e do preconceito (direta ou indiretamente) contra indivíduos ou grupos por causa de sua etnia ou cor. É importante ressaltar que o preconceito é uma forma de conceito ou juízo formulado sem qualquer conhecimento prévio do assunto tratado, enquanto a discriminação é o ato de separar, excluir ou diferenciar pessoas ou objetos.

 

 

TIPOS DE RACISMO

→ Preconceito e discriminação racial ou crime de ódio racial

Nessa forma direta de racismo, um indivíduo ou grupo manifesta-se de forma violenta física ou verbalmente contra outros indivíduos ou grupos por conta da etnia, raça ou cor, bem como nega acesso a serviços básicos (ou não) e a locais pelos mesmos motivos. Nesse caso, a lei 7716, de 1989, do Código Penal brasileiro prevê punições a quem praticar tal crime.

 

→ Racismo institucional

De maneira menos direta, o racismo institucional é a manifestação de preconceito por parte de instituições públicas ou privadas, do Estado e das leis que, de forma indireta, promovem a exclusão ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplo as formas de abordagem de policiais contra negros, que tendem a ser mais agressivas. Isso pode ser observado nos casos de Charlottesville, na Virgínia (EUA), quando após sucessivos assassinatos de negros desarmados e inocentes por parte de policiais brancos, que alegavam o estrito cumprimento do dever, a população local revoltou-se e promoveu uma série de protestos.

 

→ Racismo estrutural

De maneira ainda mais branda e por muito tempo imperceptível, essa forma de racismo tende a ser ainda mais perigosa por ser de difícil percepção. Trata-se de um conjunto de práticas, hábitos, situações e falas embutido em nossos costumes e que promove, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Podemos tomar como exemplos duas situações:

 

1. O acesso de negros e indígenas a locais que foram, por muito tempo, espaços exclusivos da elite, como universidades. O número de negros que tinham acesso aos cursos superiores de Medicina no Brasil antes das leis de cotas era ínfimo, ao passo que a população negra estava relacionada, em sua maioria, à falta de acesso à escolaridade, à pobreza e à exclusão social.

 

2. Falas e hábitos pejorativos incorporados ao nosso cotidiano tendem a reforçar essa forma de racismo, visto que promovem a exclusão e o preconceito mesmo que indiretamente. Essa forma de racismo manifesta-se quando usamos expressões racistas, mesmo que por desconhecimento de sua origem, como a palavra “denegrir”. Também acontece quando fazemos piadas que associam negros e indígenas a situações vexatórias, degradantes ou criminosas ou quando desconfiamos da índole de alguém por sua cor de pele. Outra forma de racismo estrutural muito praticado, mesmo sem intenção ofensiva, é a adoção de eufemismos para se referir a negros ou pretos, como as palavras “moreno” e “pessoa de cor”. Essa atitude evidencia um desconforto das pessoas, em geral, ao utilizar as palavras “negro” ou “preto” pelo estigma social que a população negra recebeu ao longo dos anos. Porém, ser negro ou preto não é motivo de vergonha, pelo contrário, deve ser encarado como motivo de orgulho, o que derruba a necessidade de se “suavizar” as denominações étnicas com eufemismos.

(https://brasilescola.uol.com.br/)

 


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