O REALISMO NO BRASIL
O Realismo foi um movimento artístico do final do século XIX que se contrapôs ao estilo anterior, o Romantismo. No Brasil, tal estilo teve como marco inicial a publicação do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, em 1881.
Uma corrente literária que
dialoga com o Realismo é o Naturalismo,
do mesmo período, que retrata, em geral, a vida
da população mais pobre. Em Portugal, Antero de Quental e Eça de
Queiroz foram os principais escritores realistas. Na França, destacou-se
Gustave Flaubert, que é considerado o pai do Realismo europeu, autor de Madame Bovary, publicado em 1857, na França.
CONTEXTO
HISTÓRICO
O reinado de Dom Pedro II, iniciado em 1840, explodia em tensões políticas
entre liberais, que defendiam maior autonomia das províncias, e conservadores,
que requeriam um governo imperial mais forte e centralizado.
De 1864 a 1870, aconteceu a Guerra do Paraguai, longo conflito que
destruiu a nação paraguaia e enfraqueceu a monarquia brasileira, provocando
também uma crise econômica, que fortaleceu os ideais republicanos.
A abolição da escravatura
finalmente ocorreu, em 1888, sendo o
Brasil o último país do mundo a abolir a mão de obra escrava. Os negros
recém-libertos não tinham direito à terra nem ao trabalho assalariado na
lavoura, destinado aos imigrantes europeus, cuja entrada no país foi facilitada
em prol de um processo de branqueamento
da população.
Na mesma altura, em 1889, ocorre a Proclamação da
República.
É nesse cenário,
influenciado pelo Positivismo, pelo Socialismo e pelo Marxismo, que se
desenvolvem ao longo dos anos 1800, que o Realismo surge no Brasil.
O desenvolvimento científico-tecnológico foi o estandarte do período: evolucionismo, tabela de elementos químicos, invenção da lâmpada elétrica, do telefone, do carro a gasolina, do rádio, entre muitos outros exemplos de descobertas e bens industrializados que modificaram a maneira como os seres humanos viviam e interagiam com o meio.
O cientificismo também
conduziu as correntes filosóficas da época, em especial o positivismo, doutrina
fundada por Auguste Comte, que propunha a criação de uma “física social”, isto
é, uma análise da sociedade que seguisse os métodos das ciências exatas e
biológicas.
As novas indústrias que
surgiam tinham sua capacidade produtiva aumentada. Era o início do capitalismo
financeiro. A intensificação da manufatura industrial gerou a massificação das
cidades. Condições de emprego degradantes, longas jornadas de trabalho, baixos
salários e oferta de mão de obra maior do que a demanda inspiraram outra
corrente filosófica do período, o socialismo, postulado por Karl Marx.
CARACTERÍSTICAS
O Realismo no Brasil dá
enfoque ao homem, ao seu cotidiano e à crítica social. Assim, por meio de uma
linguagem simples e objetiva, as obras são ricas na descrição de detalhes -
características que visam aproximar o leitor o mais possível da realidade.
OBJETIVIDADE: Ao
contrário dos românticos, que exaltavam a subjetividade como enfoque ideal para
a literatura, os realistas buscavam a maior objetividade possível, ou seja,
enquanto os escritores do romantismo representavam o mundo a partir de pontos
de vista ultrassentimentais ou muito pessoais, os autores realistas procuravam
retratar a realidade tal qual ela era,
com a menor influência pessoal possível.
CRÍTICA
SOCIAL: Uma das marcas do Realismo é a representação
das hipocrisias sociais de modo escancarado. Aqui também o movimento difere-se
do Romantismo, que procurou exaltar o estilo de vida burguês. O Realismo, em
oposição, critica as contradições e moralismos da elite burguesa.
IRONIA:
Especialmente na obra de Machado de Assis, é possível perceber um claro traço
de ironia nas descrições e narrativas.
Em geral, essa figura de retórica expõe críticas diversas ao grupo social
representado na narrativa.
ENFOQUE
COM DESCRIÇÕES PSICOLÓGICAS: O Realismo brasileiro
retratou não só a parte externa da sociedade brasileira do final do século XIX,
mas também representou uma excepcional descrição dos valores e pensamento das
personagens narradas. Observe, por exemplo, como são descritos os olhos da
personagem Capitu, uma das grandes personagens da obra “Dom Casmurro”, de
Machado de Assis:
“Retórica
dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram
aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra da
dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de
ressaca. É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido
misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se
retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras
partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros;
mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo,
cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.”
Ao descrever os olhos de
Capitu, o narrador vale-se da expressão “olhos
de ressaca”, como sendo “uma força que arrastava para dentro, como a vaga
que se retira da praia, nos dias de ressaca”. Dessa forma, confere-se à
personagem uma esfera psicológica não só profunda, como o oceano, mas também
extremamente atraente, como as ondas no mar em ressaca.
INFLUÊNCIAS
De modo genérico, é possível
dizer que o Realismo foi influenciado pelas novas teorias científicas que
surgiam na época:
Positivismo, de
Comte;
Comunismo, de
Marx e Engels;
Evolucionismo, de
Darwin;
Determinismo, de
Taine.
REALISMO
X NATURALISMO
Uma corrente literária que dialoga com os valores do Realismo é o Naturalismo. Assim como o primeiro, essa vertente busca enfocar a realidade de modo objetivo. Entretanto, é notável que, nas narrativas naturalistas, há uma representação das camadas mais pobres da sociedade – os romances O mulato (que, inclusive, inaugura o Naturalismo no Brasil) e O cortiço, de Aluísio Azevedo, por exemplo, retratam uma população ainda escrava ou remanescente da escravidão. Além disso, no Naturalismo, havia a presença mais clara da influência das teorias científicas do século XIX.
Machado
de Assis foi o principal autor do Realismo
brasileiro. Suas principais obras são:
Memórias
Póstumas de Brás Cubas (1881)
Papéis Avulsos (1882)
Quincas
Borba (1891)
Várias Histórias (1896)
Dom
Casmurro (1899)
Esaú e Jacó (1904)
Relíquias da Casa Velha
(1906)
Memorial de Aires (1908)
(Brasil Escola / Toda a
Matéria)
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