TERCEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO BRASILEIRO NA POESIA: CONDOREIRISMO
As décadas de 60 e 70, dos anos 1800, representam para a poesia brasileira um período de transição. Ao mesmo tempo que muitos dos procedimentos das gerações anteriores são mantidos, novidades de forma e de conteúdo dão origem à terceira geração da poesia romântica, mais voltada para os problemas sociais e com uma nova forma de tratar o tema amoroso.
·
poesia
social libertária;
·
protesto
político;
·
libertação
dos escravos (liberdade = condor);
·
tendência
realista;
·
influência
do escritor francês Victor Hugo, autor de “OS MISERÁVEIS”;
·
Principais autores: Castro Alves e Joaquim de Souza Andrade
(Sousândrade).
POESIA ENGAJADA – é aquela que se coloca a serviço de uma
causa político-ideológica, procurando ser uma arte de contestação e
conscientização.
Na
segunda geração, o poeta se comporta como um orador; a poesia é feita para ser declamada. Daí o uso de
vocativos, de hipérboles, de narrativas que envolvam e sensibilizem o
ouvinte/leitor, mostrando que aquela realidade da escravidão precisa ser
mudada, que o sofrimento imposto aqueles seres humanos de pele negra precisa
parar.
Nos anos 1900, vários poetas deram
continuidade a essa corrente poética, como: Carlos Drummond de Andrade,
Ferreira Gullar, Thiago de Melo e outros.
A música popular também cumpriu esse
papel nos anos 1960/1970, durante o regime militar, principalmente pela voz de
Geraldo Vandré, chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso e Gilberto Gil.
CONTEXTO HISTÓRICO
Dom Pedro II estava no poder
desde 1840, e enfrentava muitas dificuldades administrativas, políticas,
econômicas, o que começa a mudar a partir de 1850, com a produção e o sucesso
do café. Nesse mesmo ano, entra em vigor a Lei
Eusébio de Queiroz, que proíbe o tráfico humano de africanos para o Brasil,
o que não significa que tenha sido
respeitada em todo o país de imediato. Três grupos discutiam a questão da
escravidão: os ABOLICIONISTAS defendiam
o fim imediato; os EMANCIOPACIONISTAS,
defendiam o fim de maneira lenta e gradativa, “para não quebrar a economia com
suas riquezas oriundas das lavouras de café”;
os ESCRAVISTAS defendiam a manutenção ou a indenização dos
ricos proprietários de escravos. O Brasil foi o último país a libertar seus
escravos. Nos Estados Unidos, por exemplo, isso acontecera 20 anos antes, com a
13ª emenda à Constituição proposta por Abraham Lincoln.
ANTÔNIO FREDERICO DE CASTRO ALVES nasceu na Bahia, numa cidade chamada Curralinho, que hoje tem o seu nome, em 1847. Na escola, foi colega de Rui Barbosa. Começou a escrever com 13 anos. Aos 14, se muda para o Recife. Morre em 1871, em Salvador, com apenas 24 anos, abatido por uma tuberculose contra a qual lutou por anos. Também teve um pé amputado (sem anestesia), por conta de um acidente com uma espingarda de caça. Viveu intensamente, se permitiu muitos amores, embora um amor de infância tenha marcado a sua vida para sempre. Teve muitas perdas, casos de loucura e de suicídio na família. Sua obra e sua importância foram reconhecidas em vida.
A poesia de Castro Alves
apresenta ideias democráticas e abolicionistas, denúncia, mas ele também
escreve poesia lírica (de amor), com uma visão bem diferente da segunda geração.
Ele produz uma poesia erótica
em que a mulher não é mais aquela virgem sonhada, quase incorpórea da segunda
geração. Ela passa a ser de carne e osso e participa ativamente da relação
amorosa.
JOAQUIM
DE SOUSA ANDRADE (SOUSÂNDRADE) nasceu no Maranhão, em
1833, onde também morreu, em 1902, com 69 anos. Cursou Letras em Paris, na
universidade de Sorbone. Em 1857, publica seu primeiro livro, HARPAS SELVAGENS,
cronologicamente dentro da SEGUNDA GERAÇÃO, porém com tema da TERCEIRA, onde é
estudado. Embora tenha ocupado cargos na administração pública de seu estado,
morreu na miséria, abandonado. Sua obra só foi valorizada depois de sua morte.
Uma frase dele, dita em
1877, nos chama muito a atenção: “Ouvi dizer que o GUESA ERRANTE será lido 50 anos depois; entristeci – decepção de
quem escreve 50 anos antes.”
TEXTO 01: NAVIO NEGREIRO –
Castro Alves
Era
um sonho dantesco!... o tombadilho,
Que
das luzernas avermelha o brilho,
Em
sangue a se banhar.
Tinir
de ferros ... estalar de açoite...
Legiões
de homens negros como a noite,
Horrendos
a dançar...
Negras
mulheres, suspendendo às tetas
Magras
crianças, cujas bocas pretas
Rega
o sangue das mães:
Outras,
moças, mas nuas e espantadas,
No
turbilhão de espectros arrastadas,
Em
ânsia e mágoas vãs!
No
entanto o capitão manda a manobra.
E
após fitando o céu que se desdobra
Tão
puro sobre o mar,
Diz
do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai
rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os
mais dançar!...”
E
ri-se a orquestra, irônica, estridente...
E
da ronda fantástica a serpente
Faz
doudas espirais...
Se
o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se
gritos... o chicote estala.
E
voam mais e mais...
Presas
nos elos de uma só cadeia,
A
multidão faminta cambaleia,
E
chora e dança ali!
Um
de raiva delira, outro enlouquece,
Outro,
que de martírios embrutece,
Cantando,
geme e ri!
No
entanto o capitão manda a manobra.
E
após fitando o céu que se desdobra
Tão
puro sobre o mar,
Diz
do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai
rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os
mais dançar!...”
E
ri-se a orquestra irônica, estridente...
E
da ronda fantástica a serpente
Faz
doudas espirais...
Qual
um sonho dantesco as sombras
voam!...
Gritos,
ais, maldições, preces ressoam!
E
ri-se Satanás!...
TEXTO 02 – BOA NOITE – Castro Alves
Boa
noite, Maria! Eu vou-me embora.
A
lua nas janelas bate em cheio.
Boa
noite, Maria! É tarde ... é tarde...
Não
me apertes assim contra teu seio.
Boa
noite! ... E tu dizes – Boa noite,
Mas
não mo digas assim por entre beijos...
Mas
não mo digas descobrindo o peito,
-Mar
de amor onde vagam meus desejos.
Julieta
do céu! Ouve... a calhandra
Já
rumoreja o canto da matina.
Tu
dizes que eu menti? Pois foi mentira
Quem
cantou foi teu hálito, divina!
Como
um negro e sombrio firmamento,
Sobre
mim desenrola teu cabelo...
E
deixa-me dormir balbuciando:
-Boa
noite! – formosa Consuelo!...
TEXTO 03 – FRAGMENTO DE O GUESA
ERRANTE - Sousândrade
“E
houve um tempo em que nós nos assentávamos,
Eu
e ela, por entre os cafezeiro...
Os
arroios corriam... nós amávamos...
E
eram assim teus raios feiticeiros.
As
vozes, eras tu que nos dizias
Tantas
venturas, tantos mimos castos!
As
ondas, eras tu que as incendias
Dos
seus cabelos negrejantes bastos!” (p.72)
TEXTO 04 – HAITI – Caetano
Veloso e Gilberto Gil
Quando
você for convidado para subir no adro
da
fundação Casa de Jorge Amado
pra
ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
dando
porrada na nuca de malandros pretos
de
ladrões mulatos e outros quase pretos
(e
são quase todos pretos) / e os quase brancos pobres como pretos
como
é que pretos, pobres e mulatos / e quase brancos quase pretos
de
tão pobres são tratados......
e
quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina
111
presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
ou
quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
e
pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos....
Pense
no Haiti, reze pelo Haiti
O
Haiti é aqui, o Haiti é aqui.
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