PRIMEIRA GERAÇÃO MODERNISTA NA POESIA: 1922 - 1930
Lembre-se que o modernismo
foi um movimento artístico, cultural, político e social bem amplo.
No Brasil, ele foi dividido
em três fases, onde cada uma apresentava suas singularidades segundo o contexto
histórico inserido.
Resumo
da primeira geração modernista
A Semana de Arte Moderna de
1922 foi, sem dúvida, o marco inicial da estética moderna no Brasil.
Esse evento, ocorrido em São
Paulo, no Teatro Municipal, durante os dias 11 a 18 de fevereiro de 1922,
representou uma ruptura com os padrões
artísticos tradicionais.
A Semana reuniu
apresentações de dança, música, exposições e recitação de poesias. Ela chocou
grande parte da população brasileira, por estar avessa ao tradicionalismo
vigente, estabelecendo assim, novos paradigmas de arte.
Os artistas envolvidos
tinham como principal intuito apresentar uma estética inovadora, pautada nas
vanguardas artísticas europeias (cubismo, futurismo, expressionismo, dadaísmo,
surrealismo, etc.), iniciadas a partir do final do século XX.
Os artistas modernistas que
merecem destaque nessa primeira fase fizeram parte do chamado “Grupo dos Cinco”:
Mário de Andrade (1893-1945)
Oswald de Andrade
(1890-1954)
Menotti Del Picchia
(1892-1988)
Tarsila do Amaral
(1886-1973)
Anita Malfatti (1889-1964)
Importante lembrar que
muitos artistas foram estudar na Europa, sobretudo em Paris (centro irradiador
cultural e artístico da época) e trouxeram inovações no campo das artes.
Ainda que tivessem
características das vanguardas europeias, o evento buscava apresentar uma arte
mais brasileira (brasilidade). Por esse motivo, a primeira fase modernista
priorizou temas pautados no nacionalismo,
portanto na cultura e na identidade do Brasil.
Uma importante
característica desse período de afirmação nacional foi a disseminação de
diversos grupos e manifestos. Além disso, a publicação de algumas revistas
auxiliaram na divulgação dos ideais modernos.
Dos grupos modernistas destaca-se:
Pau-Brasil
(1924-1925).
Verde-amarelismo
ou Escola da Anta (1916-1929).
Movimento
Antropofágico (1928-1929).
Das Revistas divulgadoras
dos ideais modernistas as principais foram: a Revista Klaxon (1922-1923) e a
Revista de Antropofagia (1928-1929).
Contexto
histórico da primeira fase modernista
O modernismo foi um
movimento artístico e literário que surge em muitos países no final do século
XX.
Ele nasce no período
denominado entre guerras, visto que a Primeira Guerra Mundial ocorreu de 1914 a
1918 e a segunda de 1939 a 1945.
No Brasil, o período vigente
é a primeira fase da República, chamado de República
Velha (1889-1930). Esse contexto esteve marcado pelas oligarquias cafeeiras
(São Paulo) e as oligarquias do leite (Minas Gerais).
Nesse momento, as
oligarquias dominavam a cena política se alternado no poder e impedindo a
eleição de indivíduos de outros estados.
A queda da bolsa de Nova
York, em 1929, resultou numa grande crise mundial refletida nas sociedades de
diversos países.
Esse evento foi responsável
pelo início da Segunda Guerra Mundial e os governos totalitários que surgiram
na Europa: nazismo, fascismo, franquismo e salazarismo.
Características
da primeira geração modernista:
- Nacionalismo crítico e ufanista;
- Valorização do cotidiano;
- Resgate das raízes culturais brasileiras;
- Críticas à realidade brasileira;
- Renovação da linguagem;
- Oposição ao parnasianismo e ao academicismo;
- Experimentações estéticas;
- Renovações artísticas;
- Ironia, sarcasmo e irreverência;
- Caráter anárquico e destruidor;
- Uso de versos livres e brancos.
Principais
autores e obras:
Além do “Grupo dos Cinco”
(Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti Del Picchia, Tarsila do Amaral e
Anita Malfatti) outros artistas se destacaram nessa fase:
Manuel
Bandeira (1886-1968): escritor, professor, crítico de arte e
historiador brasileiro. De sua obra poética destacam-se: A Cinza das Horas
(1917), Libertinagem (1930) e a Lira dos Cinquent'anos (1940).
Graça
Aranha (1868-1931): escritor e diplomata brasileiro, sua obra de
maior destaque é “Canaã” (1902).
Victor
Brecheret (1894-1955): escultor ítalo-brasileiro. O “Monumento
às Bandeiras” (1953), na cidade de São Paulo é, sem dúvida, sua obra mais
importante.
Plínio
Salgado (1895-1975): escritor, político e jornalista brasileiro e
fundador do movimento nacionalista radical denominada “Ação Integralista
Brasileira (1932), sua obra mais emblemática do período é “O Estrangeiro”,
publicada em 1926.
Ronald
de Carvalho (1893-1935): poeta e político brasileiro, publicou
em 1922 “Epigramas Irônicos e Sentimentais”.
Guilherme
de Almeida (1890-1969): escritor, jornalista e crítico de
cinema brasileiro, publicou em 1922 a obra “Era Uma Vez…”.
Sérgio
Milliet (1898-1966): escritor, pintor e crítico de arte
brasileiro, publicou em 1927 a obra “Poemas Análogos”.
Heitor
Villa-Lobos (1887-1959): maestro e compositor brasileiro; Villa
Lobos é considerado o maior expoente da música moderna no Brasil. De suas
composições com traços modernos destaca-se “Amazonas e Uirapuru” (1917).
Cassiano
Ricardo (1895-1974): escritor e jornalista brasileiro. De sua
obra destaca-se o poema indianista e nacionalista, publicado em 1928, “Martim
Cererê”.
Tácito
de Almeida (1889-1940): escritor, jornalista e advogado
brasileiro, foi colaborador da Revista Klaxon onde publicou diversos poemas. Em
1987, foi publicado uma seleção de poemas na obra: “Túnel e Poesia Modernista
1922/23”.
Di
Cavalcanti (1897- 1976): pintor brasileiro, considerado um dos
mais importantes representantes da primeira fase modernista. Foi ilustrador da
capa do “Catálogo da Semana de Arte Moderna”, destacando-se com sua obra
“Pierrot” (1924).
Lasar
Segall (1891-1957): nascido na Lituânia mudou-se para o Brasil
em 1923. Foi pintor e escultor de influência expressionista, sendo suas obras
mais representativas: o “Retrato de Mário de Andrade” (1927) e
"Auto-retrato" (1933).
Alcântara
Machado (1901-1935): escritor, jornalista e político brasileiro,
destaca-se sua coletânea de contos intitulada “Brás, Bexiga e Barra Funda”,
publicada em 1927.
Vicente
do Rego Monteiro (1899-1970): poeta, pintor e escultor
brasileiro, dentre suas obras temos: “Mani Oca (O nascimento de Mani)” (1921) e
“A Crucifixão” (1922).
Descobrimento – Mário de
Andrade
Abancado à escrivaninha
Na minha casa da Rua
Lopes Chaves
De supetão senti um
friúme por dentro.
Fiquei trêmulo, muito
comovido
Com o livro palerma
olhando pra mim.
Não vê que me lembrei
que lá no norte, meu Deus! Muito longe de mim
Na escuridão ativa da
noite que caiu
Um homem pálido magro de
cabelo escorrendo nos olhos,
Depois de fazer uma pele
com a borracha do dia,
Faz pouco se deitou,
está dormindo.
Esse homem é brasileiro
que nem eu.
PRONOMINAIS – Oswald
de Andrade
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da nação brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
VÍCIO NA FALA –
Oswald de Andrade
Para dizerem milho dizem
mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem
teiado
E vão fazendo telhados.
AMOR –
Oswald de Andrade
humor
Brás, Bexiga e Barra
Funda – Alcântara Machado
Do consórcio da gente
imigrante com o ambiente,
do consórcio da gente
imigrante com a indígena
nasceram os novos
mamelucos.
Nasceram os
italianinhos.
O Gaetaninho.
A Camela.
Brasileiros e paulistas.
Até bandeirantes.
E o colosso continuou
rolando.
No começo a arrogância
indígena perguntou meio zangada:
Carcamano pé-de-chumbo
Calcanhar de frigideira
Quem te deu a confiança
De casar com brasileira?
O pé-de-chumbo poderia
responder tirando o cachimbo
da boca e cuspindo de
lado: A brasileira, per Bacco!
Mas não disse nada.
Adaptou-se. Trabalhou. Integrou-se.
Prosperou.
E o negro violeiro
cantou assim:
Italiano grita
Brasileiro fala
Viva o Brasil!
E a bandeira da Itália!
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