POETAS DA SEGUNDA FASE DO MODERNISMO BRASILEIRO

 

1.JORGE DE LIMA

Jorge de Lima, conhecido como “príncipe dos poetas alagoanos”, foi um escritor modernista. Além disso, ele trabalhou como artista plástico, professor e médico. Pertencente à segunda fase do modernismo no Brasil, também chamada de “fase de consolidação”, Jorge de Lima teve grande destaque na poesia de 30.

 

BIOGRAFIA

Jorge Mateus de Lima nasceu dia 23 de abril de 1893 na cidade alagoana de União dos Palmares. Passou sua infância em sua cidade natal e em 1902 mudou-se com sua família para a capital: Maceió. No jornal do colégio, ele já escrevia poemas.

Em 1909, Jorge ingressou no curso de medicina na capital baiana: Salvador. Porém, foi no Rio de Janeiro que ele terminou a graduação. Trabalhou na área de formação, mas paralelamente foi se aprofundando na literatura.

Além disso, esteve envolvido com a política sendo Deputado Estadual. Foi também Diretor-Geral da Instrução Pública e Saúde em Alagoas.

Se dedicou também às artes plásticas (pintura de telas, fotomontagens e colagens) como autodidata, participando de algumas exposições.

Seu trabalho como artista plástico esteve relacionado com a vanguarda artística do surrealismo, o qual se aproximou do universo onírico.

A partir de 1930 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como médico e professor de Literatura. Em 1935 foi eleito governador do Estado. Mais tarde, tornou-se presidente da Câmara no Rio de Janeiro.

Em 1940 recebeu o “Grande Prêmio de Poesia”, concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL).

Faleceu no Rio de Janeiro, dia 15 de novembro de 1953.

 

Curiosidade

Jorge de Lima candidatou-se seis vezes para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL), no entanto, não conseguiu o cargo.

 

OBRAS

Jorge de lima escreveu textos em versos (poemas) e prosa (ensaios, peças de teatro, romances e biografias) com foco na cultura brasileira.

Suas obras têm como tema os aspectos sociais do regionalismo e da religião. As principais obras do poeta Jorge de Lima são:

 

XIV Alexandrinos (1914)

Poemas (1927)

Novos poemas (1929)

O acendedor de lampiões (1932)

O anjo (1934)

A mulher obscura (1939)

Poemas negros (1947)

Livro de sonetos (1949)

Guerra dentro do beco (1950)

Invenção de Orfeu (1952)

 

Daniela Diana

Professora licenciada em Letras / www.todamateria.com.br

 

ESSA NEGRA FULÔ

Do livro POEMAS NEGROS, de 1947. Neste livro há muitos poemas oriundos de memórias da infância do poeta. Neto de escravagista, cristão católico, parece que Jorge de Lima tenta aliviar sua consciência de homem branco em alguns poemas; tenta relativizar/amenizar os sofrimentos impostos aos negros em outros; tenta justificar alguns comportamentos dos brancos cristãos contra o povo africano aqui escravizado. Em NEGRA FULÔ não parece haver uma crise de consciência do autor, como acontece em CELIDÔNIA, pela morte de quem sente-se culpado.

 

Ora, se deu que chegou

(isso já faz muito tempo)

no bangüê dum meu avô

uma negra bonitinha

chamada negra Fulô.

 

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

 

Ó Fulô! Ó Fulô!

(Era a fala da Sinhá)

— Vai forrar a minha cama,

pentear os meus cabelos,

vem ajudar a tirar

a minha roupa, Fulô!

 

Essa negra Fulô!

 

Essa negrinha Fulô

ficou logo pra mucama,

para vigiar a Sinhá

pra engomar pro Sinhô!

 

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô

 

Ó Fulô! Ó Fulô!

(Era a fala da Sinhá)

vem me ajudar, ó Fulô,

vem abanar o meu corpo

que eu estou suada, Fulô!

 

vem coçar minha coceira,

vem me catar cafuné,

vem balançar minha rede,

vem me contar uma história,

que eu estou com sono, Fulô!

 

Essa negra Fulô!

 

"Era um dia uma princesa

que vivia num castelo

que possuía um vestido

com os peixinhos do mar.

entrou na perna dum pato

saiu na perna dum pinto

o Rei-Sinhô me mandou

que vos contasse mais cinco".

 

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

 

Ó Fulô? Ó Fulô?

Vai botar para dormir

esses meninos, Fulô!

"Minha mãe me penteou

minha madrasta me enterrou

pelos figos da figueira

que o Sabiá beliscou."

 

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

 

Fulô? Ó Fulô?

(Era a fala da Sinhá

chamando a negra Fulô.)

Cadê meu frasco de cheiro

que teu Sinhô me mandou?

 

— Ah! foi você que roubou!

Ah! foi você que roubou!

 

O Sinhô foi ver a negra

levar couro do feitor.

A negra tirou a roupa.

 

O Sinhô disse: Fulô!

(A vista se escureceu

que nem a negra Fulô.)

 

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô

 

Ó Fulô ? Ó Fulô?

Cadê meu lenço de rendas

cadê meu cinto, meu broche,

cadê meu terço de ouro

que teu Sinhô me mandou?

Ah! foi você que roubou.

Ah! foi você que roubou.

 

O Sinhô foi açoitar

sozinho a negra Fulô.

A negra tirou a saia

e tirou o cabeção,

de dentro dele pulou

nuinha a negra Fulô.

 

Essa negra Fulô!

Essa negra Fulô!

 

Ó Fulô? Ó Fulô?

Cadê, cadê teu Sinhô

que nosso Senhor me mandou?

Ah! foi você que roubou,

foi você, negra Fulô?

 

Essa negra Fulô!

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