SEGUNDA FASE DO MODERNISMO BRASILEIRO NA PROSA

 

A prosa da 2ª fase modernista caracteriza-se pelo regionalismo, pela relação do homem com o meio em que vive.

A Literatura Brasileira já apresentava uma tendência regionalista. Desde o Romantismo, a busca de traços particulares da realidade brasileira já estava presente em algumas obras, entretanto, neste período, a partir das conquistas da primeira fase modernista e das ideias socialistas, os autores dão um novo tom a esse regionalismo. O livro A BAGACEIRA, de José Américo, é considerado o primeiro romance regionalista do Modernismo. Mas seu valor deve-se mais à temática histórica da seca, dos retirantes e ao aspecto social do que aos aspectos literários.

 

2ª FASE MODERNISTA (1930-1945) PROSA:

* Rachel de Queiroz (Ceará)

* Graciliano Ramos (Alagoas)

* Jorge Amado (Bahia)

* José Lins do Rego (Paraíba)

* Érico Veríssimo (Rio Grande do Sul)

 

Todos esses autores, exceto o último,  voltaram-se basicamente para os temas do Nordeste, como a seca, o cangaço e o ciclo açucareiro.

Érico Veríssimo  apresentou uma obra voltada para as relações do homem e a paisagem do Sul do Brasil.

 

Rachel de Queiroz foi a primeira mulher a se “eleger imortal” na Academia Brasileira de Letras. Suas obras regionalistas destacam-se pela reflexão sobre a figura feminina numa sociedade patriarcal.

 

Em seu livro O QUINZE, conta a história da luta de um povo contra a seca e a miséria,  tema marcante da prosa modernista da segunda geração.  A força da mulher nordestina também é tratada em toda sua obra. Entre as suas figuras femininas destacam-se: Conceição, em O quinze e Maria Bonita, em O Lampião.

 

Graciliano Ramos é considerado pela crítica literária o melhor ficcionista dessa segunda fase.

Sua obra é marcada pela ausência de sentimentalismo e por um forte poder de síntese, refletida na linguagem direta e precisa.

Entre seus livros destacam-se Memórias do Cárcere e São Bernardo.

Memórias do Cárcere é uma narrativa autobiográfica que analisa as atrocidades cometidas pela Ditadura Vargas. Por suas ligações com o Partido Comunista, Graciliano Ramos foi realmente preso durante um ano. Em São Bernardo, Graciliano Ramos ao contar a história de Paulo Honório, rico proprietário da fazenda São Bernardo, que se casa com a professora Madalena, personagem fortemente influenciada por ideias progressistas, faz uma reflexão sobre o processo de coisificação do ser humano, (“muitas vezes mais preocupado com o ter e do que com o ser”).

Mas é com outro livro que Graciliano Ramos alcança maior notoriedade.

Menino Morto e Família de Retirantes (pinturas de Cândido Portinari) apresentam o tema central de Vidas Secas – grande livro de Graciliano Ramos. Vidas Secas é um romance que narra a história de uma família de retirantes que abandona sua terra atingida por uma forte seca. A família é formada por Sinhá Vitória, a mãe; Fabiano, o pai; seus dois filhos, denominados apenas como menino mais velho e menino mais novo e os animais: o papagaio e a cachorra Baleia.Veja um fragmento de Vidas Secas em que a família inicia a viagem em busca de uma vida melhor:

 

“A caatinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor dos bichos moribundos. – Anda, excomungado.

O pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo. Tinha o coração grosso, queria responsabilizar alguém pela sua desgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário – e a obstinação da criança irritava-o. Certamente esse obstáculo miúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, e o vaqueiro precisava chegar, não sabia onde. (…)

Pelo espírito atribulado do sertanejo passou a ideia de abandonar o filho naquele descampado. Pensou nos urubus, nas ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinou os arredores. Sinhá Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com alguns sons guturais que estavam perto. Fabiano meteu a faca na bainha, guardou-a no cinturão, acocorou-se, pegou no pulso do menino, que se encolhia, os joelhos encostados no estômago, frio como um defunto.

Aí a cólera desapareceu e Fabiano teve pena. Impossível abandonar o anjinho aos bichos do mato. Entregou a espingarda a Sinhá Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se, agarrou os bracinhos que caíam sobre o peito, moles, finos como cambitos. Sinhá Vitória aprovou esse arranjo, lançou de novo a interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.

E a viagem prosseguiu, mais lenta, mais arrastada, num silêncio grande”.

 

A secura do ambiente e a dureza da vida aos poucos iam embrutecendo as personagens.

 

Jorge Amado é talvez um dos autores mais conhecidos pelo público jovem. Isto porque, muitos de seus livros foram adaptados para a TV e o cinema. E ainda hoje, é um dos escritores brasileiros que mais vendeu livros.

Seus livros traçam um verdadeiro e completo quadro do povo brasileiro, em especial do povo baiano. A linguagem simples, marcada por expressões populares, a preocupação com os costumes e as tradições populares e o bom humor fizeram de Jorge Amado um dos mais queridos escritores brasileiros.

Sua vasta produção é comumente dividida em função da temática.

 

* Romances da Bahia

* Romances ligados ao ciclo do cacau

* Crônicas de costumes

 

Romances da Bahia - Que retratam a vida das classes oprimidas na urbana Salvador. São livros de denúncia das desigualdades sociais.

Entre eles destaca-se: Capitães da Areia.

 

Romances ligados ao ciclo do cacau -  Que retratam a exploração dos trabalhadores rurais, pela economia latifundiária no Nordeste. Segundo o próprio Jorge Amado, foi a luta do cacau que o tornou romancista.

Entre esses romances destacam-se: Cacau e Terras do Sem Fim.

 

Crônicas de costumes - Que partem dos cenários do agreste e da zona cacaueira para uma reflexão sobre a vida, os amores e os costumes da sociedade. São desse ciclo as conhecidíssimas figuras femininas de Jorge Amado, como Gabriela, cravo e canela; Dona Flor e seus dois maridos, Tieta do Agreste e Teresa Batista cansada de guerra.

 

Érico Veríssimo é o grande representante da região Sul do Brasil nessa segunda fase. E assim como Jorge Amado, também foi muito querido pelo público leitor.

Sua obra é frequentemente dividida em romances urbanos, históricos e políticos. Em seus romances urbanos analisa os conflitos e os valores de uma sociedade em crise. Entre os principais livros dessa categoria estão: Clarissa e Olhai os lírios do campo. A sua grande obra prima é a trilogia histórica O Tempo e o Vento, que narra a disputa pelo poder político entre importantes famílias na região Sul. Entre as personagens principais estão Ana Terra e Rodrigo Cambará.

O livro Incidente em Antares é um romance político em que Érico Veríssimo explora o absurdo e o fantástico. Num dado momento do romance, os coveiros da cidade entram em greve e os mortos por sua vez, resolvem ressuscitar e denunciar a corrupção e a podridão moral existente na cidade. Ocorre uma fusão entre o plano real e o imaginário.

 

José Lins do Rego foi um apaixonado por futebol, o Flamengo do Rio de Janeiro. Foi um autor muito identificado com os costumes do povo .Sua obra pautou-se fundamentalmente nas recordações de um menino que conviveu com as fazendas produtoras de cana. Seus principais temas são: da decadência dos engenhos produtores de açúcar e da estrutura patriarcal, as disputas políticas na região nordeste e o cangaço. Entre seus livros destacam-se: Menino de Engenho e Fogo Morto.

 

Veja um fragmento do livro Menino de engenho:

“Coitado do Santa Fé! Já o conheci de fogo morto. E nada é mais triste do que engenho de fogo morto. Uma desolação de fim de vida, de ruína, que dá à paisagem rural uma melancolia de cemitério abandonado. Na bagaceira, crescendo, o mata-pasto de cobrir gente, o melão entrando pelas fornalhas, os moradores fugindo para outros engenhos, tudo deixado para um canto, e até os bois de carro vendidos para dar de comer aos seus donos. Ao lado da prosperidade e da riqueza do meu avô, eu vira ruir, até no prestígio de sua autoridade, aquele simpático velhinho que era o Coronel Lula de Holanda, com seu Santa Fé caindo aos pedaços (…)”

 

Profª Edna Prado (com adaptações minhas)

https://www.enemvirtual.com.br/vestibular/portugues/modernismo-no-brasil-segunda-fase-prosa/

 

 

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