INTERTEXTUALIDADE
A intertextualidade se refere à presença de elementos formais ou semânticos de textos, já produzidos, em uma nova produção textual. Em outras palavras, refere-se aos textos que apresentam, integral ou parcialmente, partes semelhantes ou idênticas de outros textos produzidos anteriormente.
Essa intertextualidade pode
ser indicada explicitamente no texto ou pode vir “disfarçada” pela linguagem do
autor. Em todo caso, para que o sentido da relação estabelecida seja compreendido,
o leitor precisa identificar as marcas intertextuais e, em alguns casos,
conhecer e compreender o texto anterior.
Em trabalhos científicos,
como artigos e dissertações, é comum haver citação de ideias ou informações de
outros textos. A citação pode ser
direta, cópia integral do trecho necessário, ou indireta, quando se explica a informação desejada com suas próprias
palavras. As duas formas compreendem a intertextualidade, pois aproveitam
ideias já produzidas para contribuir com as novas informações.
TIPOS
/ CLASSIFICAÇÃO
CITAÇÃO – é
quando o autor referencia outro texto por ter pertinência e relevância com o
conteúdo do novo texto. A citação pode ocorrer de forma direta, quando se copia o trecho na íntegra e o destaca entre
aspas, ou pode ser indireta, quando
se afirma o que o autor do texto original disse, mas explicando os conceitos
com novas palavras, relacionando a abordagem com o novo conteúdo.
Exemplo:
Segundo Sócrates, “sábio é
aquele que conhece os limites da própria ignorância”, logo, de nada adianta ter
acúmulo de informações, quando não se aplica a autocrítica e a reflexão como
ferramentas de reconhecimento das potências e limites do nosso conhecimento.
PARÁFRASE – é o processo de intertextualidade no qual o sentido do texto original é reafirmado, mantendo alguma semelhança estruturall. Nesse tipo, o intuito é reescrever o assunto do texto original, aproveitando principalmente os elementos semânticos já existentes, para produzir uma nova linguagem com o mesmo tema.
Exemplo:
“Meus
olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha
boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como
era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu
tão esquecido de minha terra…
Ai
terra que tem palmeiras
Onde
canta o sabiá!”
Carlos
Drummond de Andrade / Paráfrase da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias
PARÓDIA – é
o tipo de intertextualidade em que se apresenta uma estrutura semelhante à de
um texto anterior, mas com mudanças que interferem e/ou subvertem o sentido do
texto, o qual passa a apresentar forte teor crítico, cômico e/ou sátiro. Desse
modo, além de construir-se um novo texto, com semelhanças a um anterior,
procura-se também evidenciar uma mudança de sentido.
Exemplo:
“Minha
terra tem macieiras da Califórnia
onde
cantam gaturanos de Veneza.
Os
poetas da minha terra
são
pretos que vivem em torres de ametista,
os
sargentos do exército são monistas, cubistas,
os
filósofos são polacos vendendo a prestações.
A
gente não pode dormir
com
os oradores e os pernilongos.
Os
sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu
morro sufocado
em
terra estrangeira.
Nossas
flores são mais bonitas
nossas
frutas mais gostosas
mas
custam cem mil réis a dúzia.
Ai
quem me dera chupar uma carambola de verdade
e
ouvir um sabiá com certidão de idade!”
Murilo
Mendes / Paródia da “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias
REFERÊNCIA
/ ALUSÃO – é o ato de indicar ou insinuar um texto
anterior sem, no entanto, aprofundar-se nele. Esse método de intertextualidade
apresenta de forma superficial e objetiva informações, ideias ou outros dados
presentes em texto ou textos anteriores.
Exemplo:
Como diria o poeta, amanhã é outro dia.
EPÍGRAFE – é
a reprodução de um pequeno trecho do texto original no início de um novo texto.
Ela, comumente, vem alocada no início da página, no canto direito e em itálico.
Apesar de ser um trecho “solto”, a epígrafe sempre tem uma relação com o
conteúdo do novo texto.
“Apesar
de você
amanhã
há de ser
outro
dia.”
Chico
Buarque
O PASTICHE
pode ser visto como uma espécie de colagem ou montagem, tomando-se recortes de
vários textos, quase sempre com fins satíricos.
Oração
do Bebum
Whisky
e Vodka,
que
estão no bar
Alcoolatrado
seja o nosso fígado
.
Venha a nós o copo cheio
nunca
apenas pelo meio.
Seja
feita a nossa cachaçada
Assim
no buteco como na calçada
O
mé nosso de cada dia nos dai hoje.
Perdoai
as nossas bebedeiras
Assim
como nós perdoamos
A
quem não tenha bebido.
Não
nos deixai cair na Coca Diet
E
livrai-nos da água gasosa, Barmem.
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OUTROS
EXEMPLOS DE INTERTEXTUALIDADE
Na
música:
“De
Jackson do Pandeiro, nem Cremilda
De
Michael Jackson, nem a Billie Jean
De
Jimi Hendrix, nem a doce Angel
Nem
Ângela nem Lígia, de Jobim
Nem
Lia, Lily Braun nem Beatriz
Das
doze deusas de Edu e Chico
Até
das trinta Leilas de Donato
E
de Layla, de Clapton, eu abdico
Só
você,
Canto
e toco só você
Só
você
Que
nem você ninguém mais pode haver”
(Lenine)
A música do cantor
brasileiro Lenine apresenta uma
declaração de amor do eu lírico à sua musa inspiradora. Na letra, o poeta faz
referência a diferentes musas, já reconhecidas socialmente, que são inspirações
de outros, mas não dele, pois a sua única musa é sua amada, verdade confirmada
em “só
você”, contrapondo-se à enumeração de musas referenciadas.
Na
literatura:
“Minha
terra tem palmares
onde
gorjeia o mar
Os
passarinhos daqui
Não
cantam como os de lá
Minha
terra tem mais rosas
E
quase que mais amores
Minha
terra tem mais ouro
Minha
terra tem mais terra”
(Oswald
de Andrade)
No poema de Oswald de Andrade, encontramos a
intertextualidade com o poema “Canção do
Exílio”, publicado anteriormente pelo poeta Gonçalves Dias. O segundo texto
apresenta elementos que evidenciam essa relação, como a repetição de expressões
como “Minha terra”, "palmares”, “gorjeia”, “daqui”, “lá”.
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