LUZIA HOMEM / DOMINGOS OLIMPIO / IMPRESSIONISMO OU REGIONALISMO NATURALISTA
A obra de Domingos Olímpio, Luzia-Homem é tida, por quase todos os críticos da literatura como uma obra tardia do Naturalismo brasileiro, haja vista sua publicação, já no início do século XX representar um contra senso a respeito das manifestações literárias. Isso porque a Literatura Brasileira, dominada pela prosa machadiana com sua verve irônica, ou mesmo a crueza da linguagem de um Lima Barreto, ou a poética incisiva de Augusto dos Anjos, não davam espaço para uma forma romanesca que se considerava ultrapassada para aquele momento histórico. Com isso, a obra de Domingos Olimpio ficou praticamente esquecida, ou foi pouco analisada em um contexto mais amplo e diversificado, que une a filosofia, a sociologia, a geografia, e a poética em um mesmo espaço de ação. Da mesma forma, a obra Luzia-Homem é uma “filha única” de Domingos Olímpio, ou seja, a sua incursão pelas letras iniciou-se e cessou com esse livro.
Luzia-Homem é
um retrato aberto da situação do homem nordestino atacado pela grande seca do
final do século XIX, e, portanto, deslocado do mundo, já que não recebe apoio
governamental, nem muito menos antevê uma solução para a sua situação. Nesse espaço
geográfico, a dinâmica da despersonalização, da transformação do homem em um
traço da paisagem natural, em um “cabra”.
Luzia, personagem principal da obra Luzia-Homem vai de encontro a esse estereótipo,
pois ela é a mulher que não aceita essa condição. Não aceita ser um ser passivo
em meio à despersonalização das pessoas. Traveste-se
de homem, em uma releitura mítica da história de Joana D’Arc, assume seu
próprio destino e busca fazer a diferença em um mundo dicotomizado e
mesmerizado pela seca.
Questões como moralidade,
caridade, bondade cristã são postas à prova e levados até sua extensão máxima,
de modo que faz o leitor pensar sobre
assuntos furtivos que estão presentes no discurso de Olímpio. Luzia-Homem
transita nesse universo de temas e provocações filosóficas, sociológicas e econômicas
que a maioria preferia deixar escondido, ou trancado em algum escaninho da
memória, ou mesmo esquecer.
O romance Luzia-Homem
apresenta-se como um não-romance, e sim como uma provocação sobre a condição
histórica da mulher, o travestimento, o protagonismo em um mundo masculino e a
tomada de decisão sobre a vida e sobre o destino. Isso implica em dizer que
Luzia não aceita o papel que lhe foi reservado, mas assume papéis diferenciados
como Joana D’Arc, Maria, Lilith, ou mesmo Madalena, com sua moralidade não
contaminada pela maledicência alheia.
SOBRE
O AUTOR
Domingos
Olímpio Braga Cavalcante nasceu na cidade de Sobral em 1850 eestudou
Direito em Recife, onde trava contato com Castro
Alves e Tobias Barreto. Nesse
período passa a escrever peças teatrais que são ambientadas e representadas em
Sobral, sua cidade natal.
Em 1873, retorna a Sobral
onde assume a função de Promotor Público. Sua permanência nessa cidade o faz
tomar contato com a grande seca nordestina de 1877, que gera subsídios para a sua obra Luzia-Homem quanto a
personagens, cenários, tipos físicos e situação socioeconômica.
Apesar da seca de 1877,
também ser um campo de análise para a formação de seu enredo literário,
Luzia-Homem só vem a lume em 1903 quanto
o escritor já está residindo no Rio de Janeiro e colabora em jornais como
Jornal do Comércio e Gazeta de Notícias.
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ISAMAR
VALDEVINO FROIO TORRES / Universidade do Estado de Mato Grosso
SOBRE
O LIVRO
O romance se passa no final de 1878 em uma cidade do interior
do Ceará. A protagonista de Luzia-Homem é Luzia, uma retirante que enfrenta a
grande seca da região com sua extrema força física (pela qual ganhou o apelido
de Luzia-Homem), que a fazia ser mais produtiva e trabalhar melhor do que os
homens.
Entre as principais
características de Luzia-Homem, destacam-se o cientificismo referente à linguagem (falas características da
região) e o determinismo, que é o
"sistema de ideias segundo o qual cada fenômeno é rigorosamente
condicionado pelos que o antecederam e dos quais é consequência".
No romance de Domingos
Olímpio, "Luzia-Homem" consegue um emprego na construção de um
presídio e torna-se objeto de desejo de Crapiúna, um soldado. Porém, a mulher,
de forte temperamento, não busca nenhum envolvimento, frustrando as
expectativas do soldado. Luzia ainda começa uma relação de ajuda e amizade com
Alexandre.
O escritor busca deixar
claro que Luzia gosta de Alexandre, mas ela não admite a afeição que sente por
ele. Alexandre acaba indo para a prisão por roubar o empório do qual fazia a
segurança. Com isso, Luzia começa a visitá-lo na prisão e Teresinha, uma moça
que tinha fugido da família e se prostituído, passa a cuidar da mãe de Luzia,
que ficara doente.
Ao final do romance,
Teresinha, ao ver Crapiúna abrindo uma bolsa com a quantidade de dinheiro
roubada do armazém, descobre que o responsável pelo assalto foi Crapiúna e
conta para Luzia. Crapiúna é preso e jura vingança. Alexandre é absolvido.
Livre, Alexandre propõe a
Luzia que partam para viver na serra com sua mãe e os familiares de Teresinha.
A mulher aceita e Alexandre parte no outro dia junto à família de Teresinha
para procurar moradia. Porém, Luzia, Teresinha, a mãe de Luzia (D. Josefina),
Raulino e outros homens combinam de ir na tarde do próximo dia.
Teresinha parte para a serra
acompanhada pelos homens, que carregavam D. Josefina, e por Luzia, que ia
atrás. Chegando à serra, um dos homens indica um caminho mais fácil à Luzia,
pois seguiriam pela estrada com D. Josefina. Para se guiar, Luzia seguiu as
pegadas secas que Teresinha deixara no barro. Após chegar a um rio, Luzia
depara-se com Crapiúna segurando Teresinha pelos braços. Ele avança na direção
de Luzia, mas a mulher se defende com unhadas em seu rosto....
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