O IMPRESSIONISMO / RAUL POMPEIA / O ATENEU
O Impressionismo
passou a ser “engajado” na Literatura a partir de dois irmãos, Edmond e Jules
de Goncourt, para que fosse designada a “escrita artística”, e que mostrava
retratar a realidade cotidiana com uma linguagem bastante exata baseada em
pensamento científico, voltada para o estado
da alma dos personagens, buscava tentar “figurar” o estado que o personagem
estava e da mesma forma os estados sutis da atmosfera.
Os principais temas que os autores
impressionistas retratavam, era sobre a vida do ser humano, ou seja, tudo o que
cotidianamente ele passa , frustração, falta de comunicação, cansaço da vida,
erotismo e também retratavam muito sobre a morte.
A história é narrada segundo o ponto de
vista do herói-autor a partir das perspectivas de vários personagens. O tempo,
a lembrança, a memória e “o tempo perdido” também são os temas.
As
principais características
impressionistas na literatura são:
• Emoções, sentimentos,
cenas, incidentes, caracteres, dando maior importância às sensações que são
causadas do que aquelas que somente são ditas.
• Valoriza-se a cor, o
efeito, os tons, ou seja, é passado somente a visão do instante.
• As emoções da alma são
passadas, como enredo ou ação da narrativa, importando mais a narrativa do que
a estrutura.
• Descrição da paisagem com
fantasia; a realidade não é de todo passada.
• Busca do tempo perdido,
através da impressão provocada pela realidade.
RAUL
POMPEIA
Raul
d'Ávila Pompeia (Angra dos Reis, 12 de abril de 1863 — Rio
de Janeiro, 25 de dezembro de 1895). Ainda menino, mudou-se com a família para
o Rio de Janeiro. Matriculado no colégio Abílio, distinguiu-se como aluno
estudioso, bom desenhista e caricaturista. Na época, redigia o jornalzinho
"O Archote". Prosseguiu seus estudos no Colégio Pedro II e publicou
em 1880 seu primeiro romance, Uma
tragédia no Amazonas. Em 1881, matriculou-se na Faculdade de Direito de
São Paulo, participando das correntes de vanguarda, materialistas e
positivistas, que visavam fundamentalmente à abolição da escravatura e a
República.
Ligou-se a Luís Gama e
participou intensamente das “agitações” estudantis. Paralelamente, iniciou a
publicação, no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, dos poemas em prosa Canções sem Metro. Termina o curso de
Direito na Faculdade de Direito de Recife, para onde se transferiu, juntamente
com noventa colegas, provavelmente em conseqüência da defesa dos ideais
abolicionistas e republicanas. De volta ao Rio de Janeiro, iniciou-se no
jornalismo profissional, escrevendo crônicas, folhetins, contos. Integrava as
rodas boêmias e intelectuais, e, aos poucos, impôs-se como escritor.
Em 1888, deu início à publicação de um folhetim na Gazeta de Notícias,
e no mesmo ano publicou o romance O
Ateneu, uma "crônica de saudades", que lhe deu a consagração
definitiva como escritor.
Após a Lei Áurea e a
Proclamação da República, prosseguiu em suas atividades de jornalista político,
engajando-se no grupo dos chamados "florianistas". Entregou-se a um
exaltado nativismo. Tendo pronunciado um inflamado discurso junto à tumba de
Floriano Peixoto (1895), foi demitido do cargo que ocupava na Biblioteca Nacional.
Suicidou-se com um tiro no peito numa noite de natal, no escritório da casa
onde morava com a mãe, que assistiu à sua morte.
Obras
1880 - Uma tragédia no
Amazonas (romance)
1888 - O Ateneu (romance)
1883 - Canções sem metro
(prosa)
1882 - As Joias da Coroa (panfleto
satírico)
O
ATENEU
Sérgio, o
protagonista, relembra os dois anos em que viveu no internato chamado Ateneu,
num texto marcado por características do Naturalismo, mas que não se limita a
seguir os preceitos desse movimento literário
A primeira dificuldade na análise do livro é
enquadrá-lo numa categoria fixa, ou seja, fazer uma classificação rígida sobre
que tipo de romance ele representa. Pode ser considerado desde um relato autobiográfico até um romance de
formação, ou ainda uma típica narrativa de cunho naturalista. Vistas
isoladamente, no entanto, essas abordagens deixam a dever no entendimento final
da obra.
De acordo com os preceitos
do romance naturalista, ao qual se pode associar o livro, depreende-se em O
Ateneu uma crítica feroz às instituições
de ensino das elites do século XIX. O colégio é visto como microcosmo da
sociedade. Para isso, o narrador utiliza descrições de toda ordem, físicas ou
psicológicas, levadas a cabo com rigor e riqueza de detalhes quase científicos.
A narrativa é assim
apresentada num movimento linear de fora para dentro, do macro para o micro. É
como se o leitor penetrasse em um organismo vivo. Inicialmente, a instituição
educacional é mostrada a partir de um foco externo: as festas, os discursos, os
ginastas e suas coreografias, a princesa imperial, que prestigiava os eventos,
e, principalmente, a figura central de Aristarco, pedagogo e dono do colégio.
Desse ponto de vista, o
narrador encara o Ateneu com certa perplexidade e maravilhamento. O colégio não
se revela ainda um mundo rebaixado, como se verá mais tarde. Nesse nível, a
percepção do que é a escola se situa no âmbito do discurso publicitário, “dos
reclames”, no dizer do narrador, o que é sublinhado, de forma irônica, por meio
do personagem Aristarco.
Esse primeiro exame dá conta
do viés naturalista. Há, porém, um aspecto que deixa a leitura mais complexa. A
estética naturalista concebe uma arte na qual o autor assume o papel de
observador, daí seu pretenso distanciamento em relação à matéria narrada, para
que possa criticar de forma mais adequada as doenças do mundo. Era a maneira –
que naquele momento tinha grande prestígio na Europa – de conceber as artes: o
artista se coloca como cientista e se isola do mundo por ele examinado.
Em O Ateneu, no entanto, há
um narrador-protagonista. O foco em primeira pessoa subverte os preceitos
naturalistas, de isenção e distanciamento. Sérgio narra e comenta o mundo
narrado. Desse modo, a compreensão sobre o que é o Ateneu se estrutura na obra
com as impressões do personagem principal. E, como elemento complicador, isso
se realiza pautado na perspectiva adulta. O romance é um relato a posteriori
das memórias de Sérgio a respeito dos dois anos em que passou no internato.
Há, então, uma matéria
narrada (o mundo do Ateneu), impregnada da consciência, das impressões do
narrador, e recuperada por sua memória daquele tempo. Essa atitude literária
afasta a obra do modelo clássico de realismo/naturalismo. Por outro lado, o
romance abriga vários aspectos naturalistas, como o determinismo, a presença do
homossexualismo e os aspectos animalescos (comparações de personagens com
animais).
Espaço
A obra é claramente dividida
em dois espaços: fora e dentro do
colégio. O primeiro é visto como ambiência do mundo natural. O segundo
funciona como rito de iniciação, acontecimento traumático por meio do qual
ocorre a passagem do universo infantil para o adulto, espaço para a formação do
homem.
O
Ateneu, contudo, em vez de formar, deforma o homem.
Trata-se de uma formação às avessas, ou seja, o que se espera de uma
instituição é subvertido por uma educação
bárbara. O ensino no colégio é determinado por um espaço no qual impera o
ideal da força sobre os mais fracos.
Tempo
O tempo é dividido em tempo psicológico e tempo vivido. O primeiro
é o da memória, manuseado pelo narrador da maneira que lhe vem na consciência.
Assim, na narração temos os episódios que ficaram na memória narrativa do
autor. Já o tempo vivido se circunscreve linearmente aos dois anos de internato
vividos pelo protagonista. Isso garante complexidade à obra e confere maior
densidade a sua leitura.
Enredo
Após a entrada de Sérgio no
Ateneu, o local é apresentado de forma minuciosa e estilizada. Há abundância
descritiva de detalhes. O narrador se atém a cada episódio, buscando na memória
o fio condutor da narrativa. Tudo isso amparado por metáforas e comparações, o
que garante uma prosa formalmente hiperbólica, com tom de grandeza, como se o
estilo elevasse aquele mundo por meio da linguagem. Assim, a cada episódio são
descritos os colegas, os desafetos, os baderneiros, os protetores, os
professores, Ema e, principalmente, Aristarco.
As relações entre esses
personagens, no relato de Sérgio, formam o Ateneu. Esse, por sua vez, como em O
Cortiço, de Aluísio de Azevedo, funciona na estrutura do livro como personagem.
Essa é mais uma das singularidades do romance em relação ao que prescrevia a
estética naturalista, para a qual o meio se sobrepunha sempre ao indivíduo,
determinando-o, como no caso do citado romance de Aluísio de Azevedo.
Aristarco é construído no
mesmo processo. Ambos – a escola e seu diretor – são abordados em comparações
com vultos da Antiguidade clássica, deuses e monumentos sacros. No entanto,
essa construção mascara um lado torpe. Por baixo da carapaça de uma instituição
educacional de renome, há o pior dos mundos, retratado em relações homossexuais degradadas, nas quais os mais fortes subjugam os
menores.
Aristarco é visto,
inicialmente, como um pedagogo-modelo. Essa imagem, no entanto, como a do
próprio internato, não passa de fachada. O
diretor é conivente com o ambiente mórbido das relações entre alunos e
professores. Tome-se, por exemplo, o caso de Franco, um dos internos,
personagem que encarna o aspecto mais doentio do colégio. Abandonado pela
família, serve como bode expiatório para Aristarco.
Aristarco e o Ateneu se determinam
um em função do outro, tanto no processo de sua construção como na
desconstrução, quando tragicamente um interno ateia fogo ao colégio. Ema,
esposa de Aristarco, aproveita o momento para fugir e abandonar o marido.
A ética e a moral falham no
renomado pedagogo. De início, Sérgio imaginava o diretor como uma extensão do
seu pai, porém percebera que Aristarco não era nada do que demonstrara na sua
política de "ensino com
afeto", seu principal "marketing chamariz".
Aristarco
tratava o ensino como um comércio, segundo o autor. “O
Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame,
mantido por um diretor que de tempos em tempos reformava o estabelecimento...como
os negociantes que liquidam para recomeçar...O Ateneu desde muito tinha
consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da
meninada...”(p.8, 4ºparágrafo)
“Aristarco, na expressão
olímpica do semblante transpirava a beatitude de um gozo superior. Gozava a
sensação prévia, no banho luminoso, da imortalidade a que se julgava
consagrado. Devia ser assim: - luz benigna e fria, sobre bustos eternos, o
ambiente glorioso do panteão. A contemplação da posteridade embaixo”.- Nesse trecho,
Sérgio via em Aristarco uma moralidade de realeza, porém também humanizado de
forma caricaturada, no que vem a seguir- “Aristarco tinha momentos destes sinceros. O
anúncio confundia-se com ele, suprimia-o, substituía-o, e ele gozava como um
cartaz que experimentasse o entusiasmo de ser vermelho”.(p.15)
Sérgio demonstra que
Aristarco e o Ateneu era um só personagem, como alguns críticos descrevem: “Naquele
momento, não era simplesmente a alma de seu instituto, era a própria feição
palpável, a síntese grosseira do título, o rosto, a testada, o prestígio
material de seu colégio, idêntico com as letras que luziam em auréola sobre a
cabeça. As letras, de ouro; ele, imortal: única diferença.” (p.15). - portanto,
se o Ateneu era imoral devia-se ao seu diretor.
Como agia o diretor, diante
do cliente de mais valia. – “Aristarco levantou-se ao nosso encontro e nos
conduziu à sala especial das visitas. Saiu depois a mostrar o estabelecimento,
as coleções, em armários, dos objetos próprios para facilitar o ensino”. (p.19)
“Conduta mutável diante doas
alunos cujos pais atrasava o trimestre. Mudava o modo de recepcionar, a ponto
do aluno se perguntar o que havia feito de errado. - Ele tinha maneiras de
todos os graus, segundo a condição social da pessoa. As simpatias verdadeiras
eram raras. No âmago de cada sorriso morava-lhe um segredo de frieza que se
percebia bem... Às vezes, uma criança sentia a alfinetada no jeito da mão a
beijar. Saía indagando consigo o motivo daquilo. Que não achava em suas contas
escolares...”(p.19)
Registro da moral
"pré-existente" no Ateneu – “Outro quadro vidraçado exibiam
sonoramente regras morais e conselhos muito meus conhecido de amor à verdade,
aos pais e temor de "deus" que estranhei como um código de
redundância” (p.19) - Ainda neste período da estória o aluno vê em Aristarco a
continuidade da família.
Ilustração de D. Ema, mulher
do diretor, com ênfase, nos trajes não adequados para uso dentro de uma escola.
Reflexão para os valores morais atemporal: “Bela mulher em plena prosperidade
dos trinta anos; formas alongadas por graciosa magreza, erigindo, porém, o
tronco sobre quadris amplos, forte como a maternidade; olhos negros, pupilas
retintas, de uma cor só, ... Vestia cetim preto justo sobre as formas,
reluzente como pano molhado; o cetim vivia com ousada transparência a vida
oculta da carne”. - (p.16)
E o que mais imoral e
realista que a narração do assassinato no colégio e a descrição e remoção do
corpo, de forma naturalista, mostrado nesta parte da obra: “Caído no soalho, vi
o cadáver sobre uma esteira de sangue. Guardava ainda o contorno da esquerda da
agonia; à boca fervia-lhe um crivo de espuma rosada; trajava colete fechado,
calças de casimira grossa. Os ferimentos não se viam. Os olhos estavam-lhe
inteiramente abertos e de tal maneira virados que me fizeram estremecer.” (p.62)
“Alguns minutos depois de
minha entrada, chegaram dois sujeitos com uma rede. Os copeiros ajudaram a
apanhar o corpo. Os homens da rede os levaram”.
“O professor Venâncio
lecionava também inglês; escapei-lhe às garras, felizmente: uma fera! chatinho
sobre o diretor, terrível sobre os discípulos; a um deles arremessou-o contra
um registro de gás, quebrando-lhe os dentes”.(p.112) - conduta do professor,
sem a justiça, a questão central das preocupações éticas.
"Ah! meus amigos, concluiu ofegante, não
é o espírito que me custa, não é o estudo dos rapazes a minha preocupação... É
o caráter! Não é a preguiça o inimigo, é a imoralidade!" (p.20) E assim se
valia a boa imagem do Ateneu... Mesmo com toda a imoralidade, Sérgio acredita
que o internato é útil: “a existência agita-se como a peneira do garimpeiro: o
que vale mais e o que vale menos separam-se. Não é o internato que faz a
sociedade; o internato a reflete”. (p.124) - Ou seja, o mundo não se resume ao
Aristarco e ao colégio Abilio, "O Novo Mundo" já se fez imoral nos
tempos da corte!
http://soslportuguesa.blogspot.com/2012/08/o-impressionismo.html
Comentários
Postar um comentário