O TROPICALISMO
O Tropicalismo foi um movimento de ruptura que sacudiu o ambiente da música popular e da cultura brasileira entre 1967 e 1968. Seus participantes formaram um grande coletivo, cujos destaques foram os cantores-compositores. Caetano Veloso e Gilberto Gil, além das participações da cantora Gal Costa e do cantor-compositor Tom Zé, da banda Mutantes, e do maestro Rogério Duprat. A cantora Nara Leão e os letristas José Carlos Capinan e Torquato Neto completaram o grupo, que teve também o artista gráfico, compositor e poeta Rogério Duarte como um de seus principais mentores intelectuais.
Os tropicalistas deram um histórico passo à frente no meio musical
brasileiro. A música brasileira pós-Bossa
Nova e a definição da “qualidade
musical” no país estavam cada vez mais dominadas pelas posições
tradicionais ou nacionalistas de movimentos ligados à esquerda. Contra essas
tendências, o grupo baiano e seus colaboradores procuram universalizar a
linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura jovem mundial, como o rock,
a psicodelia e a guitarra elétrica.
Ao mesmo tempo, sintonizaram
a eletricidade com as informações da vanguarda erudita por meio dos inovadores
arranjos de maestros como Rogério Duprat, Júlio Medaglia e Damiano Cozzela. Ao
unir o popular, o pop e o experimentalismo estético, as ideias tropicalistas
acabaram impulsionando a modernização não só da música, mas da própria cultura
nacional.
“...eu
organizo o movimento. eu oriento o carnaval”
Caetano
Veloso
Seguindo a melhor das
tradições dos grandes compositores da Bossa Nova e incorporando novas
informações e referências de seu tempo, o Tropicalismo
renovou radicalmente a letra de música. Letristas e poetas, Torquato Neto e Capinan compuseram com Gilberto Gil e Caetano Veloso trabalhos
cuja complexidade e qualidade foram marcantes para diferentes gerações. Os
diálogos com obras literárias como as de Oswald
de Andrade ou dos poetas concretistas elevaram algumas composições
tropicalistas ao status de poesia. Suas canções compunham um quadro crítico e
complexo do país – uma conjunção do Brasil arcaico e suas tradições, do Brasil
moderno e sua cultura de massa e até de um Brasil futurista, com astronautas e
discos voadores. Elas sofisticaram o repertório de nossa música popular,
instaurando em discos comerciais procedimentos e questões até então associados
apenas ao campo das vanguardas conceituais.
Sincrético e inovador, aberto e incorporador, o Tropicalismo misturou rock mais bossa nova, mais samba, mais rumba, mais bolero, mais baião. Sua atuação quebrou as rígidas barreiras que permaneciam no país. Pop x folclore. Alta cultura x cultura de massas. Tradição x vanguarda. Essa ruptura estratégica aprofundou o contato com formas populares ao mesmo tempo em que assumiu atitudes experimentais para a época.
Discos antológicos foram
produzidos, como a obra coletiva Tropicália
ou Panis et Circensis e os primeiros discos de Caetano Veloso e Gilberto Gil. Enquanto Caetano entra em estúdio ao
lado dos maestros Júlio Medaglia e Damiano Cozzela, Gil grava seu disco com os arranjos
de Rogério Duprat e da banda os Mutantes.
Nesses discos, se registrariam vários clássicos, como as canções-manifesto “Tropicália” (Caetano) e “Geléia Geral” (Gil e Torquato). A televisão foi outro
meio fundamental de atuação do grupo – principalmente os festivais de música
popular da época. A eclosão do movimento deu-se com as ruidosas apresentações,
em arranjos eletrificados, da marcha “Alegria,
alegria”, de Caetano, e da cantiga de capoeira “Domingo no parque”, de Gilberto
Gil, no III Festival de MPB da TV Record, em 1967.
Irreverente, a Tropicália transformou os critérios de
gosto vigentes, não só quanto à música e à política, mas também à moral e ao
comportamento, ao corpo, ao sexo e ao vestuário. A contracultura hippie foi
assimilada, com a adoção da moda dos cabelos longos encaracolados e das roupas
escandalosamente coloridas.
O movimento, libertário por
excelência, durou pouco mais de um ano
e acabou reprimido pelo governo militar.
Seu fim começou com a prisão de Gil e
Caetano, em dezembro de 1968. A cultura do País, porém, já estava marcada
para sempre pela descoberta da modernidade e dos trópicos.
CONTEXTO
HISTÓRICO
Culturalmente,
o país fervilhava. Até
1968, intelectuais e movimentos de esquerda podiam agir livremente, com
pequenos problemas com a censura. A intensa produção ia das peças do Teatro Oficina aos grupos Opinião e Arena;
das canções de protesto às músicas da
Jovem Guarda, passando pelos filmes do Cinema Novo e pelas artes plásticas.
Em todas as áreas, a política fazia-se presente, mantendo acesa no campo das
artes uma polêmica que opunha experimentalismo e engajamento, participação e
alienação.
A
partir de 1967, os antagonismos foram radicalizados. No campo da música, houve confrontos entre
os artistas nacionalistas de esquerda e os vanguardistas do Tropicalismo.
Estes se manifestaram contra o autoritarismo e a desigualdade social, porém
propondo a internacionalização da cultura e uma nova expressão estética, não
restrita ao discurso político. Para os
tropicalistas, entender a cultura de massas era tão importante quanto entender
as massas revolucionárias.
Ainda
no terreno político, 1968 foi o ano em que as tensões chegaram ao máximo no
País.
As greves operárias e as manifestações estudantis – com a conseqüente repressão
policial – se intensificaram. As guerrilhas rural e urbana aumentaram suas
ações. Com o crescimento da oposição,
Costa e Silva, pressionado pela extrema direita, respondeu com o endurecimento
político. Em 13 de dezembro, o Ato
Institucional Nº 5 decretou o fim das liberdades civis e de expressão,
sacramentando o arbítrio até 1984, quando o general João Figueiredo deixa a
presidência do país.
CURIOSIDADES
Quando
foram convidados para debater o Tropicalismo na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, da USP, a FAU, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Torquato Neto nem
suspeitaram do que estava por vir. Mas, naquele dia 6 de
junho de 68, quando chegaram ao auditório da faculdade sob o som de vaias e
estouros de bombinhas pressentiram a armadilha que havia sido preparada para
provocá-los e agredi-los.
Logo
na entrada, os estudantes distribuíam um panfleto com um texto de Augusto Boal
intitulado “Chacrinha e Dercy de Sapato Branco”, com pesadas críticas aos tropicalistas. Daí
já dava para perceber o clima de animosidade que pairava no ar. E para
completar o cenário de guerra que fora armado, os organizadores ainda escalaram
dois ferrenhos opositores do movimento tropicalista, o compositor Maranhão e o jornalista Chico de Assis. Para contrapor e equilibrar o debate,
Guilherme Araújo percebendo a saia justa em que se encontravam, convidou mais
dois tropicalistas de peso para engrossar o time dos convidados, os poetas
concretos Augusto de Campos e Décio Pignatari.
Augusto
abriu o debate falando que as incursões tropicalistas de Gil e Caetano eram uma
verdadeira revolução contra o medo. Pignatari falou na
sequência, mas a plateia estava nitidamente agitada. O estopim da revolta entre
o público presente aconteceu quando Gil argumentou que não foram eles que fizeram da música deles mercadoria, mas que ela
só penetra quando é vendida. A confusão chegou ao ápice quando Caetano citou Chacrinha. Esta foi a senha
para que a plateia, enraivecida além de vaiar e estourar bombinhas atirasse
bananas sobre eles. Mesmo debaixo da chuva de insultos, Pignatari não se
intimidou, levantou e sozinho vaiou aquela plateia enfurecida.
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