MOVIMENTOS DE VANGUARDA EUROPEIA: CUBISMO, DADAÍSMO E SURREALISMO

 

Cubismo

O Cubismo surgiu na França em 1907 e tem como característica a fragmentação da realidade, o ilogismo, o humor e flashes cinematográficos.

Apresenta também uma sobreposição de assuntos, espaços e tempos diferentes e a linguagem utilizada de forma predominante é a nominal.

A literatura no Cubismo também retratou a fragmentação e a geometrização da realidade por meio da linguagem: as palavras são soltas e dispostas no papel com o objetivo de criar uma imagem.

 

Ilogismo:  Os textos cubistas são caracterizados pela exclusão da lógica formal, onde o pensamento não é racional, ele surge entre o consciente e o inconsciente do autor.

Linguagem caótica: Utiliza-se uma linguagem caótica, onde não há uma lógica, as palavras são soltas e dispostas de forma aleatória.

Tempo presente: Ansioso por viver seu tempo, o momento presente, para o escritor cubista tudo passa a ser tema para poesia, como por exemplo: paisagens, visões exóticas, viagens.

Humor: O humor encontra-se presente nos textos cubistas, provocado não só pelas ironias, mas pela própria disposição gráfica das palavras.

O poeta francês Guillame Apollinarie foi o responsável pelo primeiro manifesto da literatura cubista, logo após as primeiras exposições de artistas como Pablo Picasso e Braque.

 

Guillaume Apollinaire foi um escritor e crítico de arte francês, provavelmente o mais importante ativista cultural das vanguardas do início do século XX, onde ficou conhecido particularmente por sua poesia.

Na obra Il pleut de Apollinaire, podemos observar que o autor aproxima a poesia da pintura, onde busca reproduzir a queda da chuva, rompendo a organização de estrofe e verso.

Tradução literal do poema Il pleut (Chove) de Apollinaire:

"Chovem vozes de mulheres como se estivessem mortas mesmo na recordação. Chovem também vocês maravilhosos encontros de minha vida ó gotinhas, e estas nuvens empinadas se põem a relinchar todo um universo de cidades minúsculas. Escuta se chove enquanto a mágoa e o desdém choram uma antiga música. Escuta caírem os laços que te retém embaixo e em cima."

A literatura cubista somente tomou forma através da poesia. A associação entre ilogismo, simultaneidade, algo instantâneo e humor foi explorado na busca de se criar novos pontos de vista e afirmar a necessidade de se manter as coisas em permanente relação. No Brasil, a influência dessa vanguarda surge nas obras de Oswald de Andrade.

Ao observarmos o poema de Oswald de Andrade, percebemos as estranhas associações que deslocam, ao mesmo tempo, o olhar para vários aspectos da realidade.

 

HÍPICA

Saltos records

Cavalos da Penha

Correm jóqueis de Higienópolis

Os magnatas

As meninas

E a orquestra toca

Chá

Na sala de cocktails

 

Oswald de Andrade apresenta em seu poema cubista o ambiente de uma corrida de cavalos na hípica. Nele, também existe uma “sobreposição” de imagens, que desloca o olhar do leitor da pista e o dirige para o público.

O resultado é a criação de uma imagem plural composta de diferentes planos da própria realidade

 

Dadaísmo

O Dadaísmo é um movimento artístico e literário que surgiu na Europa, na cidade suíça de Zurique, em 1916, como uma negação de jovens franceses e alemães que não quiseram permanecer em seus países para não serem convocados para a guerra.

Por muitos críticos, é considerado o mais radical dos movimentos da Vanguarda Europeia. Esse movimento representava a destruição e anarquia de valores e formas.

Por se tratar de um movimento de crítica cultural mais amplo, que aborda não somente as artes, mas modelos culturais passados e presentes, é considerado um movimento radical de contestação de valores que utiliza vários canais de expressão: revista, manifesto, exposição e outros.

O movimento dadaísta promovia o "terrorismo cultural", pois negava todas as tradições sociais e artísticas. Tinha como base o niilismo (descrença absoluta), o ilogismo (ausência de lógica ou de regras) e o slogan "a destruição também é criação".

O movimento surgiu com a intenção de negar todos os sistemas e códigos estabelecidos no mundo da arte. É considerado um movimento antipoético, antiartístico, antiliterário, tendo em vista que questiona até a existência da arte, da poesia e da literatura. O Dadaísmo difundiu-se através da revista Dada e, através dela, as ideias deste movimento chegaram à Nova Iorque, Berlim e Paris.

O Dadaísmo é considerado como a estética do absurdo, do incoerente, do ilógico, do surreal, a começar pelo próprio nome. De acordo com a versão aceita sobre a origem do termo Dadaísmo, quando questionado sobre o significado da palavra dada, Tristan Tzara, poeta e criador do Dadaísmo, afirmou que dada não significava absolutamente nada, que ele encontrou essa palavra por acaso, ao abrir o dicionário.

 

Características do Dadaísmo na literatura

Na literatura, o dadaísmo apresenta a falta de sentido da linguagem, as palavras são dispostas conforme surgem no pensamento, a fim de ridicularizar o tradicionalismo. Apresenta ainda:

- Agressividade verbalizada

- Desordem das palavras

- Incoerência

- Banalização da rima, da lógica e do raciocínio.

- Elementos mecânicos;

- Desejo de romper o limite entre as varias modalidades artísticas;

- Irreverência artística;

- Protesto contra a guerra, o capitalismo e o consumismo;

- Caráter pessimista e irônico, principalmente em relação à política;

- Incorporação de diversos materiais;

- Utilização de diversas formas de expressão, como a fotografia, poesia, música sons, etc. na composição das obras de arte.

 

A falta de lógica e a espontaneidade do Dadaísmo atingiram na literatura sua expressão máxima, se caracterizando através do improviso, da desordem e pela rejeição a qualquer tipo de racionalização e equilíbrio. Em seu último manifesto, Tristan Tzara afirma que o grande segredo da poesia é que "o pensamento sai da boca". Diante da dificuldade da compreensão desta afirmação, criou então uma receita de poema dadaísta para guiar seus seguidores:

Veja como escrever um poema dadaísta a partir da receita fornecida pelo próprio criador do movimento, Tristan Tzara:

 

Receita de um poema dadaísta:

Pegue um jornal.

Pegue uma tesoura.

Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar ao seu poema.

Recorte o artigo.

Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.

Agite suavemente.

Tire em seguida cada pedaço um após o outro.

Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.

O poema se parecerá com você.

E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

 

Dadaísmo no Brasil

O Dadaísmo no Brasil refletiu na produção de alguns artistas nos primeiros anos da arte modernista, como obras de Flavio de Carvalho e Ismael Nery.

O escritor Mário de Andrade apresenta forte referência dadaísta na publicação do livro Paulicéia Desvairada, que possui um poema intitulado “Ode ao burguês” e que já no prefácio o autor faz a recomendação de que só deveriam ler o poema quem soubesse urrar.

Observe um trecho do poema:

 

Ode ao burguês

“Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,

o burguês-burguês!

A digestão bem feita de São Paulo!

O homem-curva! o homem-nádegas!

O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,

é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! (...)”

 

O escritor Manuel Bandeira, considerado o maior poeta lírico brasileiro do Modernismo, mostrou muita influência dadaísta em suas obras, principalmente trabalhando no poema-piada.

Observe no poema a seguir a paródia feita a partir de um poema do romântico Joaquim Manuel de Macedo (A Moreninha).

 

Mulher, irmã, escuta-me: não ames,

Quando a teus pés um homem terno e curvo

Jurar amor, chorar pranto de sangue,

Não creias, não mulher: ele te engana!

As lágrimas são galas da mentira

E o juramento manto da perfídia.

 

Entre 1921 e 1922, o movimento dadaísta chega ao fim. Pode-se afirmar que o Dadaísmo serviu como base para vários movimentos artísticos do século XX, como o surrealismo, arte conceitual, pop art e expressionismo abstrato.

 

Surrealismo

O Surrealismo foi um movimento artístico e literário que surgiu na França na década de 20. O movimento era caracterizado pela expressão do pensamento de maneira espontânea e automática, pregando a revolta contra tudo aquilo que reprimia a liberdade.

Os autores surrealistas sofreram influência direta dos estudos de Sigmund Freud, que mostram a importância do inconsciente na criatividade do ser humano, considerado como expressão máxima da liberdade humana. Através do sonho, o homem estava livre de toda a crítica, da censura e principalmente da lógica.

O marco inicial do Surrealismo foi a publicação do Manifeste du Surréalisme (Manifesto do Surrealismo), do francês André Breton, em 1924.

 

Outros marcos importantes do surrealismo (1929):

Publicação da revista A Revolução Socialista

Publicação do segundo Manifesto Surrealista

Princípios básicos do Surrealismo

No Manifesto do Surrealismo, foram apontados os princípios básicos do movimento surrealista: a ausência da lógica, o resgate das emoções, a exaltação da liberdade de criação, do impulso humano, a adoção de uma realidade superior, entre outros.

 

No campo das artes plásticas, destacaram-se:

Salvador Dalí e a obra “A Persistência da Memória”, de 1931. A Persistência da Memória é considerada a obra síntese do período surrealista, pois agrega os elementos característicos do movimento, como o rompimento com a razão, a liberação da imaginação, a estética onírica, etc

 

O Surrealismo na literatura

Os autores do surrealismo inovaram e renunciaram o romance e a poesia em estilos clássicos, que representavam os valores sociais burgueses da época. As poesias e textos deste movimento são caracterizados pela liberdade e livre associação de ideias, o uso da escrita automática, que consistia em escrever tudo aquilo que vem à mente, sem cortes e, em frases feitas com palavras recortadas de revistas, jornais e imagens demonstravam as ideias do inconsciente.

No Brasil, o movimento chegou na década de 1930 e foi absorvido pelo movimento Modernista. É possível observar características surrealistas nas pinturas Nu, de Ismael Nery, e Abaporu, de Tarsila do Amaral.

 

https://www.soliteratura.com.br/

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Programa de Literatura para o Ensino Médio

QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA

Literatura - 1o ano