SOBRE CANUDOS E SEU ANTÔNIO / "OS SERTÕES" - EUCLIDES DA CUNHA

 

Olha aqui, ó, o ANTONIO CONSELHEIRO, da covarde guerra de Canudos, promovida pelo covarde exército brasileiro, por ordem do covarde presidente Prudente de Morais, a pedido da covarde Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana,  NÃO foi simplesmente o beato, o fanático, o ignorante que dizem certos livros e  certas apostilas não, valeu? Toinho foi seminarista, foi professor primário e foi rábula  (advogado prático) que atendia a quem não podia pagar. Quando o bichinho viveu uma experiência de corno, não agrediu, não matou, simplesmente começou suas peregrinações de forma mais intensa. De sertão em sertão, foi parar na  Bahia, próximo  a um rio chamado Vaza Barris, onde construiu uma comunidade  de pessoas segregadas, descartadas pelo poder público e pela Santa Madre Igreja Católica: eram indígenas; negros expulsos das fazendas, SEM NADA,  com o "fim" da escravidão, por fazendeiros "de bem", quase sempre católicos; trabalhadores em situação de miséria, demitidos e expulsos de fazendas; pessoas em situação de miserabilidade fugindo da terrível seca daqueles anos. Todos e todas devidamente acolhidos pelo Toinho. Lá, cada um recebia ajuda em forma de mutirão para construir sua casinha, cada um tinha um pedacinho de terra para plantar e/ou criar seus bichinhos, e havia uma plantação coletiva. Toinho, baseado em seus conhecimentos adquiridos no seminário e no dia a dia, foi se tornando o líder religioso e o líder civil daquela pobre gente, que na Fazenda Belo Monte não passava mais fome nem era perseguida. Parecia um sonho. Um oásis nos sertões profundos da Bahia. A covarde, sacana, e "higienizadora" guerra do Paraguai (1864 - 1870) e a super seca de 1877 e dos anos seguintes tinham deixado a nova república Brasil com as finanças arriadas. OS SERTÕES eram terras de ninguém, com milícias armadas pelos coronéis, ancestrais de Ciro Gomes. Prudente de Morais, primeiro presidente eleito depois dos dois golpistas militares anteriores, para se garantir no poder, dava sustentação aos coronéis donos da terra. CANUDOS,  que vira a "Terra Prometida", sob liderança de Toinho, não para de acolher pessoas. Ninguém é impedido de se achegar, de se juntar ao grupo, morar, plantar, colher, comer. Toinho estava com o povo. E já que o governo não entrava lá com políticas públicas, com programas sociais, Toinho não admitiu que o mesmo aparecesse para cobrar impostos ou que a Santa Madre Igreja, sem qualquer programa social na comunidade, aparecesse para se instalar, dando um golpe no próprio Toinho, que construíra uma igreja independente para o povo. Foi exatamente a  Santa Madre Igreja que puxou o genocídio de Canudos, que legitimou, que abençoou.  Por poder e dinheiro.  Os santos padres e bispos estavam muito incomodados com o fato de Toinho liderar uma comunidade tão grande e fazer uma pregação que não incentivava a submissão irrestrita aos poderosos coronéis, numa quase escravização.  Os homens de preto eram representantes dos coronéis e não do povo sofrido. Como sempre. Ampliado depois para os homens de terno. Os coronéis perdiam toda aquela mão de obra quase gratuita. A Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana perdia toda aquela contribuíção. O governo perdia todos aqueles impostos. Mais de 30 mil brasileiros e brasileiras, população que só perdia para a capital, Salvador, viviam felizes com Toinho. Tinham comida. Tinham trabalho. Eram solidários. Tudo isso incomoda a igreja, que quer culpa, tristeza e fome para parecer generosa com suas migalhas. Padres, bispos e coronéis exigiram uma postura firme do presidiente.  Este, covardemente,  mandou o seu exército covarde.  A ideia era prender ou matar Toinho, tomar o poder, explorar, cobrar impostos, garantir a instalação da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana. Era coisa de um dia. Dois no máximo. Estavam autorizados a matar, se houvesse resistência. Durou DOIS ANOS, quatro expedições militares, numa das maiores covardias  oficiais promovidas pela igreja, o governo e seu exército. Os milicos tinham armas poderosas para a época, muitas delas testadas na canalha guerra do Paraguai. Os sertanejos tinham facões, espingardas e bastante conhecimento da região, e muita disposição para lutar por aquela comunidade solidária, onde não passavam fome nem eram oprimidos.

Pois bem. Doze estados enviaram tropas para combater os pobres brasileiros de Canudos. Somente dois anos depois o genocídio chegou ao fim, com muitas degolas para celebrar a vergonhosa vitória do covarde exército. No fim das contas, 25 mil civis e 5 mil milicos mortos, por capricho da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana, dos coronéis do Nordeste, do presidente Prudente de  Morais e do seu exército assassino. Canudos RESISTIU por DOIS ANOS, numa luta heróica, desigual e muito covarde. Belo Monte não era uma comunidade mística de fanáticos religiosos. Era sim uma comunidade de pessoas empobrecidas, sobreviventes, que encontraram acolhimento em Antônio Conselheiro. Sim, muitos eram religiosos. Muitos brasileiros são religiosos. Pessoas caminham quilômetros carregando cruzes rumo a Aparecida todos os anos. Pessoas descem e sobem aquela rampa sem fim que liga a velha igreja à Catedral. E tudo é lindo. E tudo é fofo. Por que somente os católicos não romanos de Canudos eram fanáticos? Aliás, o nome CANUDOS tem a ver com uns cachimbos de barro usados pelos moradores através de tubos extraídos da vegetação da beira do Rio Vaza-Barris. Eram os CANUDOS DE PITO. Daí Canudos. É bom lembrar que o glorioso exército brasileiro se especializou em matar COVARDEMENTE seu próprio povo e em esconder corpos e histórias. Assim, em 1969, sob comando de outros generais assassinos, no auge da ditadura militar, Canudos foi inundada. O projeto inicial de inundação através de um açude gigante foi do ditador Getúlio Vargas, que lá esteve em 1940. Coube aos ditadores dos anos 60 concluir a obra e inundar,  escondendo sua própria vergonha, seu genocídio. Os soldados e os comandantes são outros, mas os princípios de extermínio da própria população são os mesmos,  tendo hoje como comandante supremo um tenente expulso pelo próprio exército, mais tarde promovido a capitão sem nunca ter sido. A esse homem o glorioso exército brasileiro se curva hoje, mata e tenta esconder corpos. Em Canudos, pessoas rendidas foram executadas a queima roupa. No Rio de Janeiro de 2019, 257 tiros foram disparados contra o carro de um músico preto, dos quais 82 acertaram o veículo, matando o músico e depois, o morador em situação de rua que tentou ajudá-lo. O MESMO EXÉRCITO COVARDE de Canudos. Quando os últimos milicos tomaram Canudos, Toinho já estava morto e seu corpo enterrado na igreja da comunidade,  o Santuário de Canudos. Prazerosamente, os milicos o exumaram e cortaram-lhe a cabeça, levada para a Faculdade de Medicina de Salvador. Para o governo e para a igreja era uma questão de honra destruir Canudos. E somente por isso 25 mil civis e 5 mil militares perderam a vida. Era fundamental para igreja e para o  governo  rotular Antonio Conselheiro de louco. Para isso sua cabeça foi entregue ao Dr. Nina Rodrigues, que periciando o crânio, pelos padrões da época, nada encontrou que caracterizasse algum tipo de loucura. Parece que no fim das contas o Dr. Nina ainda se casou com uma filha de Antonio Conselheiro. Também é importante destacar que a elite católica,  manipulada pelas fake news oficiais da época, legitimou o massacre de Canudos e vibrou com sua destruíção. A imagem passada pelo governo, pelo exército e principalmente nos sermões dos padres era de um povo vagabundo, armado, assassino, que planejava marchar contra outras cidades até chegar a Salvador. Essa gente ficou estarrecida com a resistência, principalmente quando, na segunda expedição militar, um general renomado cujo nome não vale a pena ser lembrado, conhecido como o "Corta-Cabeça" foi morto por tiros certeiros dos homens de Conselheiro logo na chegada ao arraial. Com medo, os comandados arregaram, largando para trás armas e munição que abasteceram a turma de Conselheiro por um bom tempo. "Esse homem tinha pacto com o demônio" - os católicos eram levados a pensar pelos seus padres genocidas. Muitos sertanejos,  já rendidos, foram degolados pelo glorioso e covarde exército assassino do seu próprio povo, que hoje segue um tenente que a própria instituíção expulsou e promoveu a capitão. Nossa história fede. Euclides da Cunha, autor de OS SERTÕES, que vale muito a pena ser lido, morreu muito jovem, assassinado pelo amante de sua mulher. Ainda casada com Euclides, teve dois filhos com o amante. Quando  soube do caso, Euclides invadiu a casa do militar, armado, disposto a matá-lo. Mas foi atingido antes. Depois a viúva se casou com o amante, que foi absolvido por um tribunal militar. 

PROF. ISAC MACHADO DE MOURA

REFERÊNCIAS: "OS SERTÕES", de Euclides da Cunha; "A GUERRA DE CANUDOS", de José Macedo;  "A RESSURREIÇÃO DE ANTONIO CONSELHEIRO E A DE SEUS 12 APÓSTOLOS", de Moacir C. Lopes; livros e apostilas de Literatura que me incomodam enquanto professor de Literatura Brasileira.

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